A Rússia está do lado errado da história na Ucrânia, diz Obama a Putin

Cimeira europeia extraordinária convocada para quinta-feira, para decidir sobre sanções a Moscovo. EUA preparam também sanções. NATO convoca reunião para terça-feira.

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Putin a mostrar o músculo no carnavel de Duesseldorf , Alemanha Ina Fassbender/Reuters

Barack Obama afirmou que A Rússia "está do lado errado da História", no que diz respeito à Ucrânia. "O mundo está unido para reconhecer que as medidas tomadas pela Rússia na Crimeia são claramente uma violação da soberania ucraniana e do direito internacional", declarou o Presidente dos Estados Unidos, prometendo sanções económicas se Moscovo não arrepiar caminho. A União Europeia, que vai realizar uma cimeira extraordinária na quinta-feira, prepara também sanções contra a Rússia.

“A Rússia está claramente em violação das suas obrigações e compromissos internacionais”, declarou a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, que terça-feira se encontrará com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov. A condição mínima para que não fossem impostas sanções pela EU, esclareceu, seria o recuo das tropas russas que actualmente controlam a Crimeia “para os seus quartéis, para as posições que ocupavam normalmente antes desta mobilização.” O acordo da Rússia com a Ucrânia permite-lhe ter 25 mil militares estacionados na Crimeia, que é a base da Frota russa do Mar Negro.

Serão os dirigentes dos Vinte e Oito a deliberar sobre as eventuais sanções a aplicar pela União Europeia, na cimeira extraordinária convocada para quinta-feira.. Poderão ter a ver com a suspensão das negociações bilaterais com a Rússia sobre questões de vistos e do Novo Acordo [de parceria estratégica]", além de outras medidas adicionais, afirmaram os ministros dos Negócios Estrangeiros, em comunicado emitido no final da reunião de emergência que tiveram esta segunda-feira em Bruxelas.

A força das sanções europeias pode no entanto ficar comprometida se se confirmar a notícia avançada pela BBC de que o Governo britânico não quer fechar o centro financeiro de Londres aos investidores russos nem diminuir as trocas comerciais com Moscovo.

A televisão pública britânica fotografou um documento que um alto responsável levava na mão, para uma reunião em Downing Street, a sede do Governo, onde se lia "o Reino Unido não deve apoiar, por ora, sanções comerciais ou fechar o centro financeiro de Londres a russos". Era possível ler também a recomendação de que os ministros britânicos "desencorajem discussões (por exemplo na NATO) sobre preparações militares de contingência."

A discussão prevê-se animada na cimeira europeia de quinta-feira para discutir a situação na Crimeia, e decidir entAo que sanções a aplicar à Rússia. Os líderes “discutirão os últimos desenvolvimentos na Ucrânia e os meios de fazer baixar a tensão”, confirmou em comunicado Herman Van Rompuy, presidente do Conselho da União Europeia

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, assegurou que se a Rússia continuar a violar "a integridade territorial e a soberania de outro país", isso irá obrigar a "recorrer a pressões diplomáticas, políticas, económicas e outras".

O Presidente francês, François Hollande, que esteve em contacto com o Presidente polaco, Bronislaw Komorowski, por  sublinhou "a necessidade de a Rússia aceitar uma solução para a saída da crise [com a Ucrânia], em conformidade com o direito internacional". 

Rui Machete, chefe da diplomacia portuguesa que esteve na reunião desta segunda-feira dos ministros dos Negócios Estrangeiros europeus, frisou que “uma das hipóteses” de decisão na cimeira será a aprovação de sanções “se não houver um desanuviamento”. Frisou no entanto que se trata de “um processo dinâmico que está a mexer quase de hora a hora”. Para o ministro, a reunião dos Vinte e Oito foi “um conselho [de ministros da UE] histórico porque estivemos a analisar uma violação flagrante do direito internacional pela Rússia”. 

Do outro lado do Atlântico vêm também ideias de sanções contra a Rússia - o Departamento de Estado confirnou que estão a ser estudadas todas as hipóteses. O senador norte-americano Chris Murphy, citado pela Reuters, sugere acções contra bancos russos, congelamento de bens, e proibição de concessões de vistos a algumas figuras com peso no regime de Vladimir Putin – mas para serem eficazes, sublinha, devem ser postas em prática juntamente com a União Europeia.

“A Rússia arrisca-se a ficar isolada política e economicamente, se não tirar as suas forças da Ucrânia”, disse o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ao primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, numa conversa telefónica realizada nesta segunda-feira – avançou fonte da Casa Branca, citada pela Reuters.

Para terça-feira está marcada uma reunião de emergência da NATO, que foi requerida pela Polónia, ao abrigo do artigo 4º, que prevê que qualquer país aliado pode pedir consultas quando a sua integridade territorial, a independência política ou a segurança estiver ameaçada.

Para já, tal comos Estados Unidos, os Vinte e Oito decidiram suspender a sua participação nos preparativos para a cimeira do G8 [os 7 países mais industrializados mais a Rússia] que decorrerá em Junho em Sotchi, na Rússia, frisando que só os retomarão quando “o ambiente em que o G8 possa tomar decisões com sentido for recuperado”. 

A Rússia foi rápida a reagir a estas movimentações diplomáticas, pela voz do ministro dos Negócios Estrangeiros: "Os que tentam interpretar a situação como uma agressão e ameaçam com sanções e boicotes são os mesmos que sistematicamente encorajaram a recusa do diálogo e incentivaram a polarização da comunidade ucraniana", afirmou Serguei Lavrov.

Acusou mais uma vez o novo governo ucraniano de atacar as minorias e defendeu a criação de grupos de auto-defesa para "protecção das populações" russas e russófonas. Lavrov referiu-se em concreto à anulação da lei que reconhecia o russo como segunda língua oficial. "Fizeram um governo de vencedores, tomaram uma decisão na Rada [Parlamento] para diminuir os direitos das minorias linguísticas", relata a AFP.

Esta noite, Lavrov, que está em Genebra, jantará com o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Frank-Walter Steinmeier, em mais uma tentativa de mediação da crise feita pela diplomacia europeia.

O rublo, a dívida e as acções de empresas russas têm estado em queda acelerada nas bolsas internacionais durante toda esta segunda-feira, depois de o Parlamento russo ter autorizado, no sábado, uma intervenção militar na Crimeia, a pedido do Presidente Vladimir Putin. A bolsa moscovita caiu 11,3%, adianta a Reuters, retirando quase 60 mil milhões de dólares ao valor das empresas russas num único dia. O banco central russo teve de gastar 10 mil milhões de dólares das suas reservas para manter o valor do rublo, já que os investidores se desfaziam da divisa ao ver a escalada da retórica e militar russa na Crimeia ucraniana.

Apesar do preço que a Rússia está já a pagar em termos económicos, Putin não está a baixar a guarda. Na verdade, esta segunda-feira foi até assistir a exercícios militares junto à fronteira da Lituânia e da Polónia – exercícios convocados após a tomada do poder pela oposição em Kiev.

No que parecia ser a declaração mais frontal até agora, o comandante da Frota Russa no Mar Negro exigiu a obediência das forças que ainda são fiéis a Kiev até às próximas 5 horas da manhã (3h em Portugal). Se tal não acontecer, "será lançado um assalto real contra as unidades e secções das forças armadas ucranianas em toda a Crimeia", segundo Aleksandr Vitko, citado pela Interfax-Ucrânia. Mas Oleh Chubuk, porta-voz da Marinha ucraniana, disse à Reuters não estar a par: “Não sabemos nada sobre isto.”

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