Morreu Mário Travaglini, o treinador da democracia corinthiana

O antigo técnico do Corinthians tinha 81 anos e foi vítima de um tumor cerebral.

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Wladimir sobre o seu ex-treinador: "Ele foi o técnico mais democrático que tive" DR

“O voto era igual. Eu era o único jogador da selecção brasileira e tinha o mesmo peso do terceiro goleiro, ou do cara que me limpava as chuteiras”, dizia Sócrates Brasileiro. No Corinthians do início dos anos 1980 era assim que se tomavam decisões sobre tudo o que envolvia um clube de futebol. A opinião de Sócrates valia tanto como a do roupeiro, assim como a opinião do roupeiro valia tanto como a do treinador Mário Travaglini. A democracia corintiana não foi ideia dele, mas abdicou muitas vezes de impor uma decisão para partilhar este processo com os outros membros da equipa.

Morreu ontem, em São Paulo, com 81 anos, vítima de um tumor cerebral, depois de ter estado mais de um mês hospitalizado, um dos mais inovadores técnicos do futebol brasileiro do seu tempo, com um percurso de conquistas que se estendeu a vários clubes.

Travaglini nasceu em São Paulo a 30 de Abril de 1932 e, como jogador (era defesa), actuou pelo Ypiranga, Palmeiras e Nacional de São Paulo, terminando a carreira aos 29 anos no Ponte Preta. A carreira de treinador começou no ano seguinte, em 1962, na formação do Palmeiras, onde ficou até 1971, sendo campeão estadual em 1966 e vencedor da Taça do Brasil em 1967.

Nos anos 1970, mudou-se para o Rio de Janeiro e as conquistas continuaram. No Vasco da Gama, foi campeão brasileiro em 1974 e, pelo Fluminense, ganhou o campeonato carioca em 1976, integrando depois a equipa técnica da selecção brasileira que esteve presente no Mundial de 1978. Em 1981, voltou a São Paulo para treinar o Corinthians, onde despontava uma nova forma de gestão de uma equipa de futebol.

Jogadores como Sócrates ou Wladimir procuraram instituir no clube o que ainda não era uma realidade no país (que ainda vivia em ditadura), o técnico não se colocou no caminho e abraçou a democracia corinthiana. "Ele foi o técnico mais democrático que tive. Ele não se preocupava apenas em impor a vontade dele. Tinha a paciência de ouvir e, inclusive, acatar a nossa opinião. Isso foi muito importante para o sucesso da democracia corinthiana", diz Wladimir, que era o lateral-esquerdo da equipa.

O Corinthians democrático teve sucesso, com títulos de campeão paulista em 1982 e 1983, apenas o primeiro com Travaglini. Depois do Corinthians, ainda treinou o São Paulo, o Palmeiras e o Vitória, retirando-se no início da década de 1990, assumindo a presidência do sindicato de treinadores de São Paulo.

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