Caso do touro fugitivo de Viana pode acabar no tribunal

Pessoas que contribuíram para a campanha de angariação de fundos para salvar o animal do matadouro reclamam a devolução do dinheiro. O touro está desaparecido desde Julho.

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Cerca de uma dezena das pessoas que contribuíram para a compra do touro que no ano passado andou fugido em Viana do Castelo exigem a devolução do dinheiro. E avisam que o caso poderá chegar ao tribunal, se não forem ressarcidas do dinheiro que entregaram para garantir que o animal – cujo paradeiro é desconhecido desde Julho – não ia parar ao matadouro.

Há seis meses que não têm notícias do Marreta e receiam ter sido enganadas. O bicho voltou a fugir em Julho de 2013 das instalações de Oliveira do Bairro da SOS Equinos, a associação que, com dinheiro angariado nas redes sociais, o comprou ao criador de Viana a quem fugiu, com outro touro (posteriormente abatido e vendido a um talho), no momento em que era carregado no camião que o levaria ao matadouro. O Marreta passou uma semana nos montes, fintando a GNR e as autoridades veterinárias. A sua fuga mediática levou então à criação do movimento Touros em Fuga, no Facebook, e à angariação dos 1378 euros que permitiriam comprá-lo e confiá-lo à SOS Equinos, onde era suposto passar o resto dos seus dias, pastando. Mas o touro voltou a fugir e, no final de Dezembro, surgiu um novo movimento no Facebook, intitulado Marreta, o Boi Enganado, apoiado por mais de 135 pessoas que reclamam a devolução do dinheiro.

“Esta página não pretende fazer juízos de valor, apenas constata que o dinheiro oferecido não obteve o propósito para o qual foi entregue e, nesse sentido, pretende a sua restituição. Assim, todas as pessoas que se identifiquem com este raciocínio devem aderir e deixar mensagem do valor que entregaram, para depois procedermos formalmente ao pedido da devolução dos valores aos responsáveis dos movimentos Touros em Fuga e SOS. Equinos”, lê-se na página do novo movimento, que já contratou um advogado.

Deolinda Sousa é uma das pessoas que se dizem enganadas. Em declarações ao PÚBLICO, garantiu que o recurso ao tribunal não está fora de hipótese: “O assunto não vai morrer. Tem que ser esclarecido o que aconteceu ao animal. Vamos até onde for preciso para saber onde está o Marreta”, frisou.

A página Touros em Fuga contou com mais de três mil seguidores. Recebeu donativos até do Brasil e de França, numa onda de solidariedade que, com o apoio da SOS Equinos, conseguiu reunir em poucos dias os 1378 euros necessários. Após a segunda fuga do animal, já na zona de Aveiro, foram realizadas várias batidas, de novo com o apoio da GNR, que não permitiram encontrá-lo.

E adensaram-se as dúvidas e suspeitas entre quem contribuiu para comprar o touro. Deolinda Sousa diz-se convencida de que “o Marreta morreu”. “Se isso foi premeditado, não sei. O facto é que o animal para o qual demos dinheiro devia estar vivo. Na minha opinião, ele fugiu, foi apanhado ou alguém o matou.”

Esta activista dos direitos dos animais sente-se defraudada, até porque participou nas buscas realizadas em Aveiro. “Cheguei a oferecer-me, durante as minhas férias, para acampar no local onde foram encontradas pistas do animal”. Lembra também que uma das promessas da Touros em Fuga e da SOS Equinos era disponibilizar informação online sobre a situação do Marreta a todos quantos contribuíssem para a sua compra. Prometeu-se ainda, acrescenta, que seriam permitidas visitas ao animal, para acompanhar a sua vida em liberdade. “Nada disso aconteceu. Não dão qualquer satisfação. Ignoraram completamente as pessoas”, protesta Deolinda Sousa.

Contactado pelo PÚBLICO, o autor da página Touros em Fuga, Miguel Dinis, garante que “a controvérsia” agora criada “não tem qualquer fundamento”. O publicitário de Lisboa, que entretanto emigrou para a Alemanha, diz-se de consciência tranquila e acusa os promotores do novo movimento que exige a restituição dos fundos de pretender apenas “denegrir” a imagem do responsável da SOS Equinos, João Paulo Jacinto, que o PÚBLICO tentou ouvir, “por este ser um aficcionado da tourada”.

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