Turistas chineses já são quase 100 milhões e o mundo agradece

Roubaram o título de turistas n.º 1 do mundo aos americanos e já lhes chamam "porta-moedas ambulantes", tanto é o dinheiro que gastam.

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Turistas chineses na Índia Roberto Schmidt/AFP

Neste momento, há milhões de chineses em movimento pelo mundo. São tantos que, numa reportagem, a CNN disse que o turismo chinês é o maior fenómeno desta indústria desde o nascimento da aviação comercial.

Não há grande exagero no comentário. Os chineses estão a mudar o perfil do turismo e a obrigar os agentes a mudar regras e há muitas décadas que isso não acontecia. A indústria do turismo teve que se adaptar a esta massa humana que, quase de um momento para outro, pôde sair das suas fronteiras, sobretudo porque os chineses viajam com os bolsos recheados de dinheiro.

Em 2012, superaram os americanos, que eram os que mais viajavam pelo mundo e, de seguida, ultrapassaram os alemães, que eram os que mais gastavam em turismo.

Os números impressionam. Em 2013, e segundo o departamento de Pequim que contabiliza e estuda o turismo, 97 milhões de chineses visitaram países estrangeiros. Em 2012 tinham saído da China em turismo 83 milhões de pessoas que gastaram, no estrangeiro, 102 mil milhões de dólares (75 mil milhões de euros), 40% mais do que no ano anterior, de acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT). Só em compras de última hora, aquelas que se fazem antes de partir para o aeroporto ou já neste, cada turista chinês no estrangeiro gastou, em média, no ano passado, 1500 euros.

Os números vão continuar a subir. Em 2015, segundo OMT, os chineses farão mais de cem milhões de viagens ao estrangeiro e em 2020 esse número duplicará, pelo menos.

“Os turistas chineses gastam tanto no estrangeiro que já há quem lhes chame ‘porta-moedas ambulantes’”, disse ao jornal China Daily Song Rui, director do departamento chinês que estuda o turismo. A quantidade de dinheiro que gastaram em Londres durante os Jogos Olímpicos de 2012 foi tão grande que os comerciantes arranjaram um termo para estes lucros: “pecking pound" (libra pequinesa).

O filão
As mudanças económicas no país fizeram surgir uma classe média com rendimentos excedentários e ávida de conhecer o que estava para lá das fronteiras da China – que a gestão comunista fechou durante várias décadas. A par deste caminho, Pequim foi suavizando algumas políticas, tornando o mundo das viagens cada vez mais acessível aos seus cidadãos.

Paralelamente, e percebendo o filão que surgiu depois do virar do milénio – em 2000, o número de chineses que viajavam pelo mundo não ultrapassava os dez milhões, segundo a OMT – os Governos dos países de todo o mundo esforçaram-se por atrair esta massa humana. O Reino Unido, que se deixara ficar para trás, anunciou no final do ano passado mudanças profundas na obtenção de vistos turísticos por parte de cidadãos chineses; Londres não gostou dos 400 mil turistas chineses que recebeu em 2012, quando comparou o número com o milhão e 400 mil que visitaram França

Na procura da melhor forma de atrair estes turistas perfeitos (muitos e gastadores), os países recorrem a medidas mais criativas para cativar o turismo chinês. A lista é do jornal Observer: o Governo grego está a apoiar uma campanha de promoção na China chamada Lua-de-mel em Ilhas idílicas; a Índia criou um circuito turístico temático de nome A Vida de Pi em que todas as visitas são feitas por guias que falam mandarim (o filme foi um tremendo êxito na China); o Zimbabwe está a negociar com Pequim a criação de “pacotes turísticos preferenciais”.

Funcionários que falam mandarim (o principal dialeto da China, o outro é o cantonês) foram contratados pelos hotéis, ementas especiais foram criadas para esta clientela que gosta de comer aquilo que conhece, surgiram letreiros em caracteres chineses em alguns locais (hotéis e atracções turísticas). O grupo de hotéis Starwood decidiu que 19 das suas unidades terão chopsticks (pauzinhos) além dos talheres ocidentais, e nos Hilton, a partir de Agosto, todos os quartos terão um kit com chá chinês e um bule especial para agradar a clientes tão importante.

Há que não esquecer também que este é o ano em que a China começará a dominar o globo preparando-se para ser a primeira economia do mundo – deixando os EUA para trás, como diz a revista Economist, que, no número especial The World in 2014, explica a forma como vamos perceber o poder chinês; o turismo é apenas uma delas.

Destino Ásia

Para já, a Ásia – pela proximidade – e a Europa (pela curiosidade) são os destinos preferidos dos turistas chineses. No Sul da China, uma viagem organizada – 50% dos chineses ainda viajam em excursão, os mais jovens vão em pequenos grupos ou sozinhos – de uma semana à Tailândia custa 500 libras com a viagem incluída, diz a BBC. Um preço baixo que ajuda a explicar que, em 2012, Banguecoque tenha destronado Londres como cidade mais visitada do mundo, segundo o índice Mastercard – nesse ano, o turismo chinês na Tailândia aumentou 107%.

Na Tailândia, os chineses visitam templos, vão às praias, procuram os parques temáticos (de cobras ou crocodilos) e perdem-se nos centros comerciais onde gastam fortunas nas lojas de marcas de luxo, aproveitando o reembolso de 60% de impostos que a condição de turistas lhes dá – as estimativas comerciais dizem que este ano os chineses vão comprar mais produtos de luxo do que as outras nacionalidades juntas.

De uma forma muito diplomática, Wei Xiao, da Federação Mundial de Cidades de Turismo, disse ao Observer que os chineses correm o risco de se tornar “os novos americanos” – os turistas menos desejados pela arrogância e, muitas vezes, ignorância. Wei diz que os turistas chineses têm que ter cuidado com o seu comportamento e devem respeitar mais os costumes dos países que visitam.

Para evitar problemas, o Governo chinês já editou um livro, de 64 páginas, com conselhos aos turistas. Diz coisas como esta: não roubar os coletes salva-vida dos aviões; não levar mais do que se pode comer ao pequeno-almoço, não secar roupa nos candeeiros dos hotéis. Mas tem havido queixas, sobretudo na Europa, por exemplo sobre o excesso de barulho dos chineses nos monumentos ou o desrespeito pelas filas de espera. Em Lausanne, na Suíça, os cidadãos levaram o protesto contra os chineses às autoridades quando, numa ocasião, os 120 autocarros que os transportavam pararam, quase em simultâneo, nas mesmas lojas de luxo, entupindo o trânsito. Em França, um grupo de casais em lua-de-mel foi expulso de um campo de alfazema, por pisarem a plantação em busca do melhor lugar para uma fotografia. No Egipto, no Verão passado, um rapaz causou enorme indignação ao gravar o seu nome num templo de Luxor.

 


 
 
 

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