Um ano depois, Guimarães está a colher o que a Capital da Cultura semeou

Cidade criou novos públicos e captou a atenção de artistas e produtores. Há mais gente a ir aos espectáculos, apesar da transição difícil no início do ano. Governo colocou-se fora da gestão dos equipamentos criados no âmbito da Capital Europeia da Cultura.

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A Plataforma das Artes é o mais emblemático dos equipamentos culturais criados em Guimarães no âmbito da Capital Europeia da Cultura de 2012 Nelson Garrido

Os meses de euforia já vão longe. Um ano depois do encerramento da Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura (CEC), a cidade voltou ao seu ritmo de município de média dimensão. Mas é com os holofotes desligados que se começam a perceber os efeitos da Capital Europeia da Cultura (CEC). Conquistaram-se novos públicos, inscreveu-se na agenda de artistas e produtores e tem uma programação cultural mais diversificada. Apesar da difícil transição do início do ano, em 2013 já se colhem frutos do que a CEC semeou.

Entre 2011 e 2013 o total de espectadores nos equipamentos culturais geridos pelo município cresceu 35%. O número é resultado de dois eixos da programação criados no ano passado, o ciclo Plataforma da Música e as exposições do Centro de Artes José de Guimarães. Ambos na Plataforma das Artes, o equipamento mais emblemático entre os criados pela Capital da Cultura. “A CEC foi determinante para a consolidação do projecto que vinha sendo implementado”, defende o vereador da Cultura, José Bastos.

Os dados da câmara mostram que foi na música que se criaram mais públicos. O festival de rock Manta duplicou o número de espectadores entre 2011 e 2013 e o Guimarães Jazz – que já era um dos eventos mais concorridos da cidade, há vários anos – teve um incremento de mil bilhetes vendidos no total. Já os festivais de dança contemporânea e de teatro mantêm os números de público.

Quando se olha para a programação regular já existente em 2011, o desempenho é menos favorável: Guimarães recebeu 44 mil espectadores até Novembro, menos três mil do que o total de 2011, embora falte contabilizar os dados dos dois últimos meses deste ano. Ainda assim, são resultados considerados “positivos” pelo vereador vimaranense: “Conseguimos suportar a quebra brutal dos números de público que a crise provou noutras cidades.”

Os efeitos positivos da Capital da Cultura são também sentidos nos equipamentos culturais de gestão privada. O Centro de Artes e Espectáculos São Mamede, nascido em 2007, é alvo de mais atenção de agentes e promotores. “Logo no último trimestre de 2012, começaram a contactar-nos para preparar 2013”, conta o director do espaço, Miguel Carvalho. A CEC também rendeu a Guimarães outro interesse por parte de artistas. A companhia Teatro Útero mudou-se de Lisboa para esta cidade no final do ano passado.

Mas nem tudo foi positivo. A transição de 2012 para 2013 foi abrupta e nos primeiros meses do ano o público da cidade sentiu a quebra no número de realizações. “Creio que o volume excessivo de programação em 2012 fez com que essa diferença se notasse mais”, avalia Miguel Carvalho.“Houve um corte radical na programação e na comunicação”, concorda Ricardo Areias, do CAAA, um espaço privado sem fins lucrativos. Por ali passavam em média mil pessoas por mês durante a CEC. “Pensávamos que ia baixar para 300 e nesses primeiros meses devia andar à volta dos 100”, conta. Depois do Verão, os números melhoraram.

O presidente da administração da Guimarães 2012 admite que a transição seria “um dos aspectos a rever”, mas acredita que a CEC deixou na cidade “qualquer coisa de muito forte”. “Os acontecimentos promovidos por organismos autónomos das instituições públicas reforçaram a sua dinâmica”, diz, dando o exemplo do festival Noc Noc, que manteve o interesse de artistas e público na primeira edição pós-CEC.

O desafio de Guimarães nos próximos anos é encontrar financiamento para manter a dinâmica. E, para isso, já sabe que não pode contar com o Governo. Na sexta-feira, a câmara e a Secretaria de Estado da Cultura (SEC) chegaram a um consenso relativo à forma de liquidação da Fundação Cidade de Guimarães, a organizadora da Capital da Cultura, mas continuam a divergir quanto à colaboração futura. “No quadro das dificuldades orçamentais existentes, o Governo não pode assumir responsabilidade, directa ou indirecta, pela gestão de mais equipamentos culturais”, justifica ao PÚBLICO o gabinete de Barreto Xavier. 

A autarquia tinha um entendimento contrário, defendendo um tratamento semelhante ao que é dado a Lisboa e Porto em matéria de financiamento público às actividades culturais. Sem o apoio do Governo, a câmara fica sozinha na defesa do investimento realizado na Guimarães 2012, com um orçamento municipal que destina 6,4 milhões de euros à cultura. “Estamos empenhadíssimos em dar continuidade a esse trabalho”, garante o vereador José Bastos.
 
 
 
 
 

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