E agora: internacionalizar

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Paisagens Propícias, de Rui Lopes Graça e João Lucas, é um exemplo feliz de uma colaboração internacional Kostadin Luchansky

No vai e vem de criações nacionais e internacionais, o balanço presta-se a uma reflexão sobre o próximo desafio da criação: a internacionalização

Nos últimos três anos a lista de teatro dos críticos do PÚBLICO tem sido encabeçada pelas propostas chilenas trazidas pelo Próximo Futuro, programado por António Pinto Ribeiro, na Fundação Calouste Gulbenkian. Velório Chileno (Cristian Plana, 2013), Gladys (Elisa Zubaleta, 2012), Villa + Discurso (Guillermo Calderón, 2011), e antes disso Neva (G. Calderón, 2010, em 4º lugar), revelam um modo de pensar o teatro, na sua dupla condição política e reformista, ou seja, enquanto máquina de expiação histórica, para a qual não temos ainda ferramentas. De certo modo, numa Europa teatralmente anquilosada, o fascínio criado por um teatro que vive na fronteira entre o documento e a ficção, permite questionar o modo como o teatro contemporâneo europeu, dividido entre as escritas de palco e o pós-dramatismo, tem alguma dificuldade em responder ao desafio de uma implicação política e ideológica que saiba pensar, à escala da mesa de jantar, as transformações sociais do país.

O que isto significa é que, a par de um teatro norte-americano de gosto europeu (Elevator Repair Service, The Team, Nature Theatre of Oklahoma, presentes em anos anteriores), as geografias que hoje problematizam o papel do teatro já não se encontram na Europa — ainda que seja a Europa que, na grande maioria dos casos, permite que sejam estas propostas a sobreviver. E, no sentido inverso, como comprovam as presenças alemãs do Internacional Institute of Political Murder, com Hate Radio (teatro), e de Monika Gintersdorfer e Knut Klassen, com The End of Western (dança), é fora da Europa que se encontram modos de relacionamento entre o quotidiano e a sua representação, ou seja entre o público e o político.

Do mesmo modo, este ano a presença de Paisagens Propícias, de Rui Lopes Graça e João Lucas para a Companhia de Dança Contemporânea de Angola, como antes, em 2011, com Gold, para a Companhia de Canto e Dança de Moçambique, mostra a necessária reflexão sobre o modo como a criação contemporânea, mais do que transnacional, trabalha a partir de contrapontos e nos interstícios dos discursos formatados.

Há uns anos perguntávamo-nos se a crise nos deveria obrigar a escolher entre a produção da criação nacional e a programação internacional. Ou seja, entre a defesa de um sistema que não tem um território de circulação vasto intrafronteiras e a possibilidade de criar pontes e sinergias a médio e longo prazo. Um exercício meramente matemático a partir das listas dos críticos mostra que dos 140 espectáculos de teatro e dança dos últimos sete anos, 72 foram estrangeiros, contra 68 portugueses. E que, no mesmo período, apenas duas vezes ficaram em primeiro lugar criações nacionais: em 2007 (Platonov, Nuno Cardoso) e 2008 (Esta Noite Improvisa-se, Jorge Silva Melo). Situação diferente na dança: 2007 (Caruma, Madalena Vitorino), 2008 (Íman, Filipa Francisco), 2011 (Du Don de Soi, Paulo Ribeiro/ Companhia Nacional de Bailado), 2012 (A Ballet Story, Victor Hugo Pontes). Os dados contribuem apenas para relevar a relação pacificada entre a criação nacional e internacional (veja-se o exemplo de André Mesquita, que coreografou Cidade Incerta para o Balé da Cidade de São Paulo, e Nuno Cardoso, que encenou Class Enemy para o Théâtre de Bordeaux en Aquitaine); não deixa de haver um trabalho a fazer, e um longo caminho a percorrer para que a circulação se possa fazer, efectivamente, nos dois sentidos.

Nos últimos sete anos, 18 coreografias e encenações vindas da América Latina, Brasil, de África, do Médio Oriente e da Ásia marcaram presença nas listas, sublinhando uma tendência cada vez mais evidente nas programações internacionais de um desejo de questionamento profundamente implicado com a constituição de um quadro de referências mais alargado. A isto não deixa de estar associado um forte comprometimento político e diplomático da parte dos países, seja através de convites para visitas de campo (que contrastam grandemente com as operações serôdias a que Portugal se dedica como o Ano do Brasil em Portugal/Ano de Portugal no Brasil) ou apoios concretos e estruturados, ao invés de políticas de remendo como são as da Secretaria de Estado da Cultura para a internacionalização.

Ao contrário do cinema, das artes plásticas e da literatura, as artes performativas não têm pesos-pesados como Miguel Gomes, João Salaviza, Joana Vasconcelos, Valter Hugo Mãe ou Gonçalo M. Tavares, o que significa que o trabalho que se faz permanece escondido para a generalidade do público, da imprensa e dos decisores públicos. Mas em época de incitação à imigração, é a exportação para a qual não se está a olhar que importa lembrar. E se o ano foi particularmente extraordinário na internacionalização.

Em Maio o teatro português chegou pela primeira vez ao Kunsten festival, em Bruxelas, com Tiago Rodrigues e Três dedos abaixo do joelho, precisamente sobre as relações entre censura e teatro. Em Junho 30 artistas de várias áreas encheram 13 espaços de Paris a convite do Théâtre de la Ville, em Paris. João Garcia Miguel e a Mala Voadora estrearam em Marselha – Capital Europeia da Cultura (e a Mala Voadora tem tido ampla exposição internacional no último ano). Victor Hugo Pontes foi o primeiro coreógrafo com produção própria a apresentar-se no Festival de Dança de Cannes (há uns anos o Ballet de Lorraine já tinha dançado Paulo Ribeiro). Marlene Monteiro Freitas esgotou por três dias a sala principal do Centre Pompidou, e o Teatro Praga outros três em Bobigny (tendo estreado ainda outra peça, em Junho e marcado regresso a Bobigny pelo terceiro ano consecutivo em 2014). Tânia Carvalho estreou as suas duas últimas peças em França. O circuito de festivais brasileiros recebeu dança portuguesa. Mariana Tengner Barros venceu o prémio do público do Prix Jardins d’Europe. Fora outras apresentações, na sua maioria na área da dança, que fazem já parte do calendário habitual das companhias e criadores.

Falta o outro lado, o da coerência e da reforma, do acompanhamento e da construção, do apoio e do incentivo. Falta, numa palavra difícil de conjugar: estratégia.

As escolhas de dança e teatro dizem respeito a espectáculos vistos até 16 de Novembro 

Dança

1
Tempo e Espaço: Solos da Marrabenta
De e por Panaibra Gabriel
22 e 23 Junho, Teatro São Luiz, Lisboa

Um magnífico breviário, onde o tempo e o espaço biográfico do intérprete se confundem com os da História do seu país. Neste solo, Panaibra Gabriel (Maputo, 1976) é o corpo do Moçambique de hoje, à procura de uma identidade por entre legados múltiplos: o tempo colonial que já não conheceu; a diversidade étnica; a utopia comunista de Samora Machel; a guerra fratricida; a democracia frágil, aferrada em sobreviver, negociada entre a liberdade de expressão, as forças do mercado e a cultura globalizada.

A marrabenta (deriva de “rebentar”, dançar em excesso), música-dança social miscigenizada dos subúrbios da Lourenço Marques dos anos 30, sobreviveu contra e com a semi-cumplicidade do poder colonial; nos seus áureos anos de 50/60, seria, com a laurentina (cerveja) e Eusébio, dos três ícones do Moçambique de então. Resistiu ao purismo folclorista do nacionalismo de Estado pós-independência e chegou às culturas urbanas da actualidade mesclada com os ritmos rap. Recriar sobre ela é, aqui, um gesto de emancipação, a assunção de assimilações diversas e seus paradoxos: confluências únicas e íntimas fazem deste solo um extraordinário depoimento sobre a moçambicanidade contemporânea. Rigor dramatúrgico e subtileza poética devolvem-nos a carne e o sangue que faltam ao discurso teórico e político.
O fundamental, porém, diz-no-lo a peça no final: somos apenas um corpo a respirar e a esvair-se, na cadência dos anos que passam, rendido à inexorabilidade da sua condição biológica. Luísa Roubaud

2
Paisagens Propícias
De Rui Lopes Graça e João Lucas
Companhia de Dança Contemporânea de Angola
18 a 20 Janeiro, Teatro Camões, Lisboa

Depois de Moçambique, a convite da Companhia de Dança Contemporânea de Angola, coreógrafo e músico regressam à África lusófona: rumaram ao desértico Namibe e lá se fizeram artistas-etnógrafos. Singularíssima visitação à cultura kuvale e ao imaginário de Ruy Duarte de Carvalho, aceno de lealdade para com a sua obra múltipla e controversa, em contraciclo dos que vêem África como abstracção cristalizada em meia dúzia de constantes. L.R.

3
Henri Michaux : Movements & Gimnopédies
Companhia Marie Chouinard
14 e 15 Junho, Centro Cultural de Belém, Lisboa

Programa duplo de excelência onde Chouinard reafirma a sua original genialidade em interpretar com a dança. Primeiro na versão infernal do livro de Michaux, que se transpõe no palco página a página: os bailarinos animam os movimentos pintados com personagens-silhueta numa incrível alucinação colectiva. Depois na abordagem divertida à música de Satie, onde o construir e desconstruir do aparato teatral entremeia com o erotismo eterno da dança a dois. Paula Varanda

4
Dance, Bailarina Dance!
De Clara Andermatt e João Lucas
Companhia Nacional de Bailado
26 Abril a 5 Maio, Teatro Camões, Lisboa

Andermatt criou o ballet do ano explorando a fundo e atingindo em pleno as atmosferas do cinema musical americano, das danças caleidoscópicas, e da orquestra de lazer dos anos 1940-1950. De corpo em pele e preto, os bailarinos decoram, percorrem e apoiam-se num magnífico volume geométrico ‘Echeriano’ de arcos, plataformas e escadarias. A volúpia encontrou-se com a precisão numa coreografia cristalina, exaltada pela música cativante de João Lucas. P.V.

5
What the Body Does Not Remember
De Wim Vandekeybus
27 e 28 Setembro, Teatro Maria Matos, Lisboa

Wandekeybus reuniu um grupo fenomenal de intérpretes, alguns muito novos, e trouxe ao presente uma peça onde o vigor, a ousadia e a determinação da idade jovem (a dele, quando estreou há 25 anos), dominam a mensagem. Intensamente física, a peça assenta numa coreografia arriscada e exigente, que fez escola e foi uma delícia rever na sua forma mais pura. É um belo jogo em sobressalto de reacções dos corpos a situações perigosas, de amor ou de humor. P.V.

6
A Sagração da Primavera
Olga Roriz (solo)
29 a 31 Maio, Teatro Municipal Joaquim Benite, Almada

Nesta Sagração o sacrifício é uma decisão voluntária. Em cena é um corpo poderoso que luta por um mundo melhor e se transforma. Lá fora fica o mundo, visto de uma admirável janela em vídeo-cenário; dentro de casa a mulher despe a sofisticação e lança-se a uma dança rodopiante e vertiginosa. Emociona a terra no cabelo do corpo, que cai e se ergue do solo, lançando rastos no ar. Roriz ganhou a prova de esforço de lidar a sós com Stravinski. P.V.

7
Cidade Incerta
De André Mesquita
Balé da Cidade de São Paulo.
26 a 28 Abril, Teatro São Luiz, Lisboa

A primeira vinda a Portugal do Balé da Cidade de São Paulo (de Iracity Cardoso, que dirigiu o Ballet Gulbenkian entre 1996-2003) reconfirmou a já considerável trajectória internacional do português André Mesquita. Esplêndida e caleidoscópica composição coreográfica a transpor com exímia fluência para o corpo dos bailarinos brasileiros, desde O Livro do Desassossego, uma visão dançada da heteronímia pessoana, onde enxergamos, em fundo, a trepidação da urbe paulistana. L.R.

8
Zoo
De Victor Hugo Pontes
20 a 22 Junho, Teatro Nacional São João, Porto

Depois de A Ballet Story, o trabalho de Victor Hugo Pontes ganhou em densidade o que antes era apenas forma. O cruzamento entre artes plásticas, dança e teatro encontram agora em Zoo, um modo de conjugação e diálogo que permite confirmar que o modo de concepção dos espectáculos passa por uma capacidade de manipulação do movimento enquanto hipótese narrativa. A gerência da qualidade dos intérpretes revela ainda a belíssima fase que vive a dança portuguesa. Tiago Bartolomeu Costa

9
The End of the Western
De Monika Gintersdorfer & Knut Klassen
22 Fevereiro, Teatro Maria Matos, Lisboa

Quando a crise dirige atenções sobre as relações entre Portugal e ex-colónias, esta curiosa “reportagem performativa” sobre as recentes disputas do poder costa-marfinense, expõe-nos paradoxos das democracias africanas, equívocos das relações norte-sul, o desmoronar da quimera Ocidental e os elos entre corpo e política — e o Portugal impreciso das breaking news, filho-enteado da Europa, refém também de ajuda externa, e suas afinidades africanas, radicadas numa História feita na transição entre hemisférios. L.R.

10
Cantatas
De Raimund Hoghe
24 e 25 Setembro, Teatro São Luiz/Festival Materiais Diversos, Lisboa

O que de mais sublime existe na obra do alemão Raimund Hoghe é a persistência num movimento rarefeito, ritualista e cerimonioso que exige dos bailarinos não apenas uma interpretação mas uma presença em palco. Se nas suas coreografias para colectivo já havíamos percebido como a fragilidade do seu movimento vivia de um potencial utópico, percebemos agora que essa utopia decorre de um desejo de partilha entre os bailarinos, como se a coreografia fosse um único e longo movimento. T.B.C. 

Teatro

1
Velório Chileno
Encenação Cristián Plana
5 e 6 Julho, Teatro do Bairro/programa Próximo Futuro, Lisboa

Dois casais festejam num apartamento de Santiago do Chile o bombardeamento da sede governamental e o ataque a Salvador Allende com champanhe, frases feitas e hinos militares, até que a violência que celebram lhes bate à porta. Reestreado em 2012, o texto foi escrito imediatamente após o golpe de estado de 1973, e trazido agora de volta à vida graças a um método de reanimação teatral que se diria típico do teatro chileno, pelo menos a julgar pelas escolhas que o programador do Próximo Futuro António Pinto Ribeiro nos tem dado a conhecer desde há alguns anos na Gulbenkian. O método: a acção dramática no seio da família ecoa o conflito político dentro da nação, a relação entre pais e filhos espelha o conflito de gerações, e as disputas entre amigos, vizinhos ou colegas reflecte a luta de classes. A fábula é ao mesmo tempo particular e alegórica, e dessa contradição vem a sua potência. O método aplica-se quer à dramaturgia quer, relação necessária, à encenação e à interpretação, ambas muy setenteras, como se diria, que compõem uma cena vintage, mais que retro, indo do cenário ao som, aproveitando o melhor do texto e o requinte dos actores para caracterizar o momento histórico e a situação dramática, no meio das quais irrompem notas de pura energia sonora e visual, dadas pela luz forte dos projectores e pelo ruído estridente que representam o exterior, na ficção, e o palco, na vida real — forma de tentar acordar o espectador para a sua circunstância. A encenação mostra a génese das formas de propaganda e espectacularidade do poder que permaneceriam dominantes por muitos anos. Jorge Louraço Figueira

2
Hate Radio
criação International Institute of Political Murder
7 a 9 Maio, Teatro Maria Matos, Lisboa

Um murro no estômago como não se achava possível encontrar num palco. Objecto de uma dorida estranheza, de um desconforto irresistível, entre o documento histórico e o palco como lugar de expiação, Hate Radio recriava os programas de rádio que alimentavam o ódio e os conflitos durante os massacres no Ruanda na década de 1990. O público, convenientemente protegido pelo artifício do vídeo, da gravação e até do cenário, procurava defender-se, sem sucesso, da violência das palavras. Aturdidos, os espectadores tinham pouca margem para justificar a passividade do passado. Tiago Bartolomeu Costa

3
Ping Pang Qiu
encenação Angélica Liddell
6 Junho, Centro Cultural Vila Flor, Guimarães

Uma aventura na China, ou pelo menos na China que há que dentro de Angélica Liddell, mulher cujo corpo alberga um espelho do mundo, de topografia distorcida e formas tão gritantes quanto se podia esperar de uma mulher espanhola do século XX, testemunha da virulência, memorialista do presente, profeta da desgraça, paliativo do nosso tempo, excursionista do futuro, quebra-cabeças do teatro contemporâneo, de onde se volta para reconhecer melhor o dito Ocidente. J.L.F.

4
O Prémio Martin
encenação Peter Stein
10 e 11 Julho, Teatro Nacional D. Maria II/Festival de Teatro de Almada, Lisboa.

Dizia Stein que no teatro de Eugéne Labiche o importante eram os detalhes. E que, sobre uma peça onde dois amigos se encontram face a um dilema — um enganou o outro, e o enganado, não tendo armas para o matar, quer, apesar de tudo, vingar-se —, esses detalhes são os diálogos. A derrisão dos textos de Labiche esconde, afinal, reflexões profundas sobre a Europa, o teatro, a amizade, o dinheiro, o poder. E Stein, na sabedoria mestra de quem trata o teatro como um relógio suíço, revelou como não há nada de mais actual do que a perpetuação dos códigos sociais. T.B.C.

5
Gob Squad’s Kitchen - You Never Had It So Good
criação Gob Squad
6 e 7 Setembro, Culturgest, Lisboa

A Pop Art da Pop Art, ou como a dialéctica pode ser um entretenimento para as massas, ao serviço do Big Brother, e ao mesmo tempo parte de uma teoria crítica da arte, ao serviço da emancipação e desprendimento. O grupo refaz os filmes de Andy Warhol para mostrar como o passado se vive hoje e qual foi o destino das revoluções culturais dos anos 1960. No fim das contas, o espectáculo proporciona uma experiência de comunhão e ironia que, se não é o futuro, é, pelo menos, o presente do teatro. J.L.F.

6
A Tempestade
criação Teatro Praga
15 e 16 Março, Centro Cultural de Belém, Lisboa

Continuando um trabalho de recomposição do lugar do texto no interior da hierarquia teatral, depois de Avarento ou A Última Festa e Sonho de Uma Noite de Verão, o colectivo Teatro Praga estabelece fronteiras claras ao território estético no qual existem. A Tempestade funciona sob princípios narrativos que emulam a ideia-base do teatro da Restauração, “onde o acessório foi criado para dar sentido ao que é realmente importante”, explicaram. E, por isso, o que antes era autofágico tornou-se assumidamente critério de exclusão. T.B.C.

7
Class enemy
encenação Nuno Cardoso
8 a 10 Novembro, Teatro do Bolhão, Porto

Que histórias tem contado Nuno Cardoso? Histórias de Portugal e da Europa, certamente. Nesta versão francesa, um dos alunos é árabe, e a sua especialidade na área do vandalismo, atirar pedras contra vitrinas, é uma espécie de intifada particular. A parede alta da sala de aula, ao fundo, que tanto pode ser uma lousa gigante como um bloco de concreto é uma alusão ao muro que rompe a Palestina. O retrato de uma turma de repetentes no coração da Europa ocidental é um espelho da geração do encenador, dispersa e revoltada contra um muro abstracto. J.L.F.

8
Dead End
Mala Voadora
23 a 26 Janeiro, Teatro Maria Matos, Lisboa

A partir de um texto de Chris Thorpe, a Mala Voadora prossegue uma reflexão sobre o modo como os actores são personagens de uma narrativa, ao invés de serem simplesmente intérpretes. A peça propõe uma extensão do tempo a partir do contacto entre os actores e os espectadores — ou seja, entre o tempo da ficção e o tempo da observação —, como se o tempo narrativo tomasse conta do tempo real e, assim, o prolongasse. É isso que possibilita que cada uma das histórias perca a sua linearidade e sugira um cruzamento que é apenas virtual e nunca real. T.B.C.

9
Melancolia y Manifestaciones
encenação Lola Arias
14 a 16 Março, Culturgest, Lisboa

Em Buenos Aires ou se é terapeuta ou teatrista, terapeutizado ou espectador, ou tudo ao mesmo tempo. Este espectáculo procura o elo perdido entre golpe de estado e trauma, ditadura e depressão, manifestação e cura, que possa refazer a relação da autora com a própria mãe e contextualiza-la na história recente da Argentina, dando respostas, ainda que provisórias, a quem as busca no teatro e na terapia. Para a filha, porém, não há cura possível. A manifestação política será a última das terapias? Se sim, então contam-se histórias para sobreviver e o teatro é a salvação. J.L.F.


10
Ai amor sem pés nem cabeça
encenação Luís Miguel Cintra
30 Maio a 30 Junho, Teatro da Cornucópia, Lisboa

Do teatro de cordel do Cais do Sodré do século XVII para o centro da vida contemporânea do século XXI as coincidências são mais que muitas. Luís Miguel Cintra, à frente de um dedicado, elegante e sagaz elenco, desmonta com perícia os estereótipos que ainda contaminam a sociedade lisboeta. A inteligência do espectáculo é de tal ordem que não deixamos de sentir o incómodo que o reflexo, tão próximo, cria. T.B.C. 

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