Médicos dizem que Lloris não devia ter continuado em campo após pancada na cabeça

Responsável da FIFA criticou decisão de manter francês em jogo após lance com Lukaku. “É preciso exagerar na precaução”, alerta um especialista.

Lloris foi avaliado em pleno relvado e autorizado a continuar em jogo
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Lloris no chão, a ser avaliado pela equipa médica do Tottenham, após o choque com Lukaku Phil Noble/Reuters
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Paul Ellis/AFP

Faltava um quarto de hora para o final do jogo entre Everton e Tottenham e a equipa de André Villas-Boas procurava uma vitória que a deixasse isolada no segundo lugar da Premier League. Mas os spurs não podiam relaxar completamente, porque do outro lado estava Romelu Lukaku, que leva cinco golos em seis jogos pelos toffees. E foi precisamente um lance entre o avançado belga e o guarda-redes Hugo Lloris que marcou a partida: Lukaku tentava alcançar uma bola lançada para a área do Tottenham, onde Lloris já estava junto ao solo para a segurar. O guardião acabou por levar uma forte pancada na cabeça na sequência do contacto com o joelho do avançado.

A partida esteve interrompida durante largos minutos para dar assistência aos dois jogadores. Villas-Boas chegou a ter o suplente Brad Friedel a postos na linha lateral para entrar no jogo, mas tal acabaria por não acontecer. Os médicos – e, aparentemente, o próprio Lloris – disseram que estava tudo bem e defenderam que não havia necessidade de substituição.

Mas a decisão de manter em campo o guarda-redes francês mereceu fortes críticas. A Federação Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol (FIFPro) frisou, em comunicado, que a saúde de Lloris “devia ser a primeira prioridade”. E o responsável pelos serviços médicos da FIFA, Jiri Dvorak, concordou que o guarda-redes devia ter sido substituído: “O facto de o jogador adversário ter tido necessidade de colocar gelo no joelho mostra que o embate foi extraordinariamente violento.”

“Ele não se lembra”
O organismo que tutela o futebol mundial remetia para a mais recente edição do documento de avaliação das concussões no desporto, distribuído aos profissionais médicos, onde se lê: “Uma concussão é uma perturbação na função cerebral causada por um impacto directo ou indirecto na cabeça. Resulta de uma variedade de sinais e/ou sintomas não-específicos e normalmente não implica perda de consciência. Deve suspeitar-se de uma concussão na presença de um ou mais dos seguintes sintomas: dor de cabeça, desequilíbrio, desorientação ou alteração de personalidade.”

No final da partida, Villas-Boas assumiu que a decisão de manter o jogador em campo foi sua, e não de Lloris: “Ele não se lembra do incidente, perdeu a consciência. Mas parecia assertivo e determinado em continuar. Decidimos mantê-lo em campo com base nessa determinação e acho que foi a decisão correcta”, confessou.

Mas essa terá sido uma opção errada, apontou ao PÚBLICO o ex-médico do FC Porto Domingos Gomes. “Perante a violência do traumatismo, e se o atleta está um bocado confuso – pode nem perder a consciência –, eu decidiria retirá-lo. Mas o quadro não acaba aí: deve seguir para uma unidade hospitalar onde fará exames. Mas, mesmo assim, nas próximas 12 horas, deve continuar em observação. Mesmo que seja traumatismo mínimo. Nestes casos é preciso exagerar na precaução. Em termos de medicina desportiva isso não tem discussão”, vincou o clínico.

Mas nem foi isso que aconteceu com Lloris. Segundo um comunicado emitido nesta segunda-feira pelos responsáveis do Tottenham, o guarda-redes francês realizou, “por precaução”, uma TAC que não suscitou preocupações, tendo sido autorizado a viajar de regresso a Londres com o resto da comitiva na própria noite de domingo.

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