Apicultores reúnem-se em Cerveira para analisar expansão da vespa asiática

Predadoras das abelhas, estas vespas têm sido encontradas no Alto Minho, onde foram destruídos uma centena de ninhos.

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As vespas são uma séria ameaça à produção de mel em Portugal Paulo Ricca

Apicultores de todo o país vão analisar este mês, em Vila Nova de Cerveira, a presença da vespa asiática em Portugal, espécie que ameaça a produção de mel e cuja expansão é receada por estes profissionais.

Organizado pela Federação Nacional Apicultores de Portugal (FNAP), que reúne cerca de 40 associações de produtores de mel de todo o país, este encontro, agendado para 25 de Outubro, surge numa altura em que a Protecção Civil confirma ter detectado, só este ano, 101 novos ninhos desta espécie invasora no Alto Minho.

Segundo João Casaca, técnico daquela federação, o objectivo do encontro é “partilhar conhecimentos e técnicas de combate” à progressão desta vespa predadora das abelhas nacionais.

“No curto e médio prazo vamos assistir à expansão territorial desta espécie, tal como acontece com todas as invasoras. Apenas as mudanças climáticas, com as diferenças entre o Norte e o Sul, poderão limitar essa expansão, dado tratar-se de um insecto que se reproduz bem e que não tem predadores”, apontou o técnico da FNAP.

Na reunião de Vila Nova de Cerveira pretende-se dar a conhecer o problema a outros apicultores e técnicos, assim como formas de identificar e combater a presença da espécie, inclusivamente com a visita a um ninho de vespa velutina, também conhecida como “asiática”, dada a sua origem. Serão ainda partilhadas estratégias para minimizar os efeitos da predação desta vespa sobre as abelhas.

“Só no distrito de Viana do Castelo é que está identificada, oficialmente, a presença desta espécie invasora. Há relatos de apicultores de Braga, mas que ainda carecem de confirmação oficial”, acrescentou João Casaca.

Trata-se de uma vespa maior e mais agressiva do que a espécie autóctone nacional e que foi introduzida na Europa através do porto de Bordéus, em França, no ano de 2004. Os primeiros indícios da sua presença em Portugal surgiram em 2011, mas a situação só se agravou a partir do final de 2012, com mais de uma centena de ninhos destruídos em Viana do Castelo nos últimos meses.

Os apicultores recordam que já existem em Portugal outras espécies de vespas predadoras de abelhas, mas a presença da asiática, que se reproduz rapidamente e em grande escala, veio alterar a realidade. “Estamos perante uma situação de desequilíbrio que nunca vimos até agora e haverá maior pressão sobre as populações de abelhas. Estamos preocupados, sobretudo porque ainda não sabemos o verdadeiro impacto no sector”, apontou João Casaca.

A FNAP reclama ainda a “monitorização” da presença desta vespa no resto do país por parte das entidades oficiais nacionais, algo que, dizem os apicultores, não está a ser feito.

A Protecção Civil informou hoje que já foram destruídos na região do Alto Minho, desde Janeiro, 113 ninhos de vespa asiática. “Desde o início do ano já validámos a presença de 101 ninhos e foram destruídos 113. Alguns já tinham sido detectados em 2012”, disse à agência Lusa o 2.º comandante distrital de operações de socorro de Viana do Castelo, Robalo Simões.

O concelho de Viana do Castelo, acrescentou o responsável, continua a ser o mais afectado pela presença desta espécie, contabilizando, em apenas cerca de nove meses, 92 ninhos destruídos. Seguem-se os concelhos de Ponte de Lima (10) e Monção (cinco), além de casos pontuais em Caminha, Valença e Vila Nova de Cerveira.

Por norma estes ninhos são detectados a mais de 10 metros de altura, no topo de árvores, mas nas últimas semanas há registo, igualmente, de outros encontrados em zona de silvas, habitacionais e até na sede de uma junta de freguesia (Monção). A Protecção Civil de Viana do Castelo apelou à população, no início do ano, para participar a detecção de novos casos de ninhos de vespa asiática na região, mas “sem alarmismos”.

As autoridades já previam, na altura, um aumento do número de casos nos meses seguintes, à semelhança da progressão da espécie registada em França e Espanha. Desde Dezembro de 2012 que a coordenação das operações de identificação e destruição de ninhos de vespa asiática na região está a cargo da Protecção Civil do distrito, sendo a destruição assegurada normalmente pelos bombeiros, com recurso a lança-chamas adaptados.
 
 

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