Um Quarteto Único

Há muita gente notável nesta primeira ficção do realizador israelo-americano Yaron Zilberman. Na ficha técnica, o director de fotografia Frederick Elmes e o compositor Angelo Badalamenti (curiosamente dois colaboradores de David Lynch). À frente das câmaras, um conjunto de actores de primeira água, Christopher Walken, Philip Seymour Hoffman, Catherine Keener, o israelita Mark Ivanir (em Portugal conhecemo-lo sobretudo por um divertido filme israelita, “A Viagem do Director”), a jovem inglesa Imogen Poots. A Nova Iorque gelada que serve de moldura geográfica dá o mote invernal da narrativa: o membro mais velho e mais proeminente de um quarteto de cordas (Walken) descobre estar num estádio inicial da doença de Parkinson, o que o leva a pensar em retirar-se. A decisão abre uma pequena crise dentro do grupo, que está junto há 25 anos. Ambições profissionais (o segundo violino está farto de ser segundo violino e quer ser primeiro), embrulhadas pessoais (dois dos músicos formam um casal, um terceiro músico apaixona-se pela filha deles), e a certa altura parece que o The Fugue (assim se chama o conjunto) está a caminho do desmantelamento. O argumento não gere estas complicações muito bem, abundando em cenas que ora parecem incompletas e apressadas ora parecem repisadas e sobre-explicadas, e Zilberman tem apenas para oferecer um estilo solenemente académico que, se não tem nada de repugnante, também não tem nada de particularmente entusiasmante. São os actores que seguram o filme, até porque a melhor ideia de Zilberman, reservada para a última e crucial cena, é quase arruinada pela falta de economia da banda sonora, que vem encher de música “off”, com efeitos destrutivos no peso dramático do silêncio, as interrupções da música diegética. Se não arruina completamente é porque esse é o momento em que se impõe a majestade magoada de Christopher Walken, a lembrar-nos que só há duas boas razões para ver este filme: gostar-se muito de Beethoven, ou gostar-se muito destes actores.

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