Tribunal trava transformação de montanha nas Canárias numa escultura de Chillida

Sonhado pelo escultor Eduardo Chillida (1924-2002) há quase 20 anos, o projecto de transformar numa escultura a montanha de Tindaya é contestado por arqueólogos e geólogos.

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O projecto de Chillida no interior da montanha DR

Ainda não é desta que vai arrancar o projecto do escultor basco Eduardo Chillida (1924-2002) de transformar numa imensa escultura a montanha de Tindaya, em Fuerteventura, uma das ilhas Canárias. O Tribunal Superior de Justiça das Canárias, noticia o jornal El País, divulgou esta quinta-feira uma deliberação na qual reconhece a Tindaya o estatuto de “bem de interesse cultural” (BIC) e informa o governo autónomo canarino de que não poderá avançar com a obra concebida por Chillida até regular a protecção das gravuras rupestres pré-hispânicas que existem no local, criando condições que garantam a sua conservação.

Mais um contratempo num projecto que parece destinado a nunca se concretizar, e que, caso venha mesmo a fazer-se, já não será visto pelo homem que o concebeu, uma vez que Chillida morreu há uma dúzia de anos, em 2002.

Artista com grande cotação internacional – uma das suas últimas obras, a monumental Buscando la Luz IV, uma peça de aço de 16 toneladas, foi vendida este ano pela Christie’s por quase cinco milhões de euros –, Eduardo Chillida começou a sonhar com a ideia de intervir directamente numa montanha ainda em meados dos anos 80, mas só uma década mais tarde, em 1995, escolhe definitivamente Tindaya para o seu Monumento à Tolerância, propondo então ao governo das Canárias um ambicioso projecto, que passaria por escavar um enorme cubo vazio no interior de uma montanha de 400 metros de altura.

O governo das Canárias adoptou o projecto e pagou 900 milhões de pesetas (cinco milhões de euros) à empresa Cabo Verde SA pelos direitos de exploração de uma mina no interior da montanha. Logo no ano seguinte, este negócio é fiscalizado por suspeitas de corrupção, enquanto vários arqueólogos e geólogos vêm a público manifestar-se contra o projecto. Chillida chega a anunciar que desistira da ideia, mas uns meses depois está outra vez nas Canárias a tentar desbloquear o processo.

Em 1997, o governo regional lança um concurso público para a execução do projecto Tindaya, ganho por um consórcio de empresas, mas a obra não chega a arrancar, travada por uma nova investigação judicial à venda da mina da Cabo Verde.

Quando Eduardo Chillida morre, em 2002, o seu monumento continua no papel, mas o governo canarino exprime a “firme vontade” de o realizar. Depois de um estudo geotécnico ter considerado o projecto viável, o início dos trabalhos chegou a ser anunciado para 2009. Mas o dito estudo vem a ser questionado e, em 2010, o provedor de Justiça canarino volta a travar a empreitada.

Agora é o Tribunal Superior de Justiça canarino que vem dar razão aos ecologistas, recusando o argumento do governo de que os procedimentos iniciados nos anos 80 para classificar Tindaya como BIC já tinham entretanto caducado. A oposição dos ecologistas ao projecto prende-se com o receio de que o esventramento da montanha de Fuerteventura ponha em causa a conservação de mais de duzentas gravuras rupestres de silhuetas esquematizadas de pés humanos, produzidas pela população pré-hispânica da ilha.  

 

 
 
 
 
 

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