Só Deus Perdoa

Talvez a claque de Drive tivesse alguma razão: aquilo era capaz de não ser assim tão mau, pelo menos numa avaliação restrita à “escala Refn”. É que este Só Deus Perdoa é aquilo que Drive, apenas banal e muito cheio de si próprio, não era: grotesco, solenemente grotesco, exemplo prático e devastador do que acontece quando a presunção e o mau gosto se aliam. Chamar-lhe “formalista” ou “maneirista” é dar imerecido mau nome ao formalismo e ao maneirismo; Só Deus Perdoa é apenas poseur e exibicionista, inacreditavelmente poseur e exibicionista, que cauciona a sua “arte” (foi Refn quem disse que o seu filme era “um Rembrandt”...) pilhando a iluminação e as composições simétricas de Kubrick porque enchem o olho, o negrume de Lynch sem perceber a dimensão auto-paródica dos filmes do homem do Blue Velvet, e a “pornografia da tortura” de Tarantino ignorando a distância psicológica praticada pelo autor do Kill Bill. E depois dedica o filme a Jodorowsky, que é uma coisa que, face ao Só Deus Perdoa é, faz tanto sentido como ver um filme de Michael Bay dedicado a Jean-Marie Straub. Ou vice-versa. Mas seja bem-vindo, sr. Refn, ao panteão dos piores cineastas do nosso tempo. Iñarritu é um homem menos sozinho, agora.

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