Rombos agravam invasão do Baixo Vouga lagunar pela água salgada da Ria de Aveiro

Não foi suficiente a intervenção de emergência nos muros de protecção feita pela Câmara de Estarreja. Autarquia exige que o Governo resolva o problema.

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Muros de protecção dos campos requerem intervenções frequentes Carla Carvalho Tomás/Arquivo

Um novo rombo nos muros de protecção, atribuído à amplitude das marés provocada por obras no porto de Aveiro, está a agravar a salinização dos campos do Baixo Vouga e a ameaçar o equilíbrio ecológico, alertou nesta sexta-feira a Câmara de Estarreja.

No lugar denominado Cachais ou Águas Largas, na confluência dos esteiros de Canelas e Sareu, a “mota” (designação dada aos muros feitos de torrão) cedeu no final da semana passada à pressão da água salgada, que inunda já 100 hectares de terrenos marginais, e a intervenção de emergência feita pela Câmara de Estarreja não foi suficiente.

A água voltou a abrir novos rombos e nesta sexta-feira, por conta da autarquia, andaram tractores a depositar pedra para repor a protecção e o caminho agrícola, numa zona de difícil acesso, o que obriga a utilizar atrelados de pequeno porte, fazendo demorar e encarecer a reparação.

O presidente da Câmara, José Eduardo Matos, deslocou-se ao local, tendo afirmado aos jornalistas que o Governo tem de agir para conter o fenómeno, dado que a água salgada já está muito próxima da linha férrea, a “última barreira” até pôr em perigo pessoas e bens.

“A câmara não pode continuar a ser o bombeiro do Baixo Vouga”, disse José Eduardo Matos, salientando que a autarquia nem sequer tem jurisdição sobre a área e que, nesta altura de mudança, com uma nova orgânica do Governo e mudanças na Agência Portuguesa de Ambiente, “o momento é crítico”.

José Eduardo Matos reconhece que as inundações no Baixo Vouga lagunar não são de agora, mas garante que “nos últimos 12 anos não aconteceu nada do género, em que passado o inverno é preciso estar permanentemente a fazer reparações. E desde Abril foram já várias as intervenções. “A Câmara de Estarreja não pode permanentemente andar aqui a fazer este trabalho e a resolver problemas, uns atrás dos outros. Estamos a falar de muito dinheiro que aqui estamos a colocar, cerca de 100 mil euros no total, e ainda está por receber o anterior. Cabe ao Governo tomar conta da questão e resolver este problema”, afirmou.

O autarca diz que há um fenómeno novo, que coincide com as obras de prolongamento do molhe norte, na barra do porto de Aveiro: “Qualquer obra que se faça tem sempre implicações na Ria. Não é dizer isto por alarmismo, mas ver o que os factos mostram. A evolução do prisma de maré no último século demonstra perfeitamente que cada obra no porto de Aveiro tem claras implicações aqui”.

José Eduardo Matos lamenta que o estudo de impacte ambiental exigido para o prolongamento do molhe tenha sido limitado à área adjacente e não tenha incidido sobre as consequências no norte da Ria. “A continuação das obras no porto de Aveiro melhora a sua capacidade, e estamos de acordo com isso, mas tem implicações fortíssimas em todo o norte da Ria, que deviam ser acauteladas. Há necessidade de o Governo perceber que tem de ser encontrado um equilíbrio, porque a questão é muito grave. Com a salinização destes campos é toda a fauna e flora que é posta em causa, e não podem as Obras Públicas continuar a assobiar para o lado e o porto de Aveiro dizer que não é consigo”, comentou.

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