Post Tenebras Lux

Como o von Trier de filmes como o AntiCristo, Carlos Reygadas vai-se tornando um pequeno mestre do jogo das imagens para “ler”, apanhando o espectador com o isco da “interpretação” - nada é directo, nada vale pelo que é, tudo exige “descodificação”, como se o trabalho do cinema fosse a transformação do mundo numa sucessão de metáforas. A alternativa é encolher os ombros, mas ninguém quer fazer isso quando posto perante imagens tão “impressionantes” (à força de grandes angulares e outras distorções fotografica ou digitalmente induzidas), que trazem consigo a intimação para que se lhes esgravate a superfície à procura de um sentido. Não é uma questão de “construção”, antes qualquer coisa muito imediata, intrínseca a cada plano, um simbolismo passo a passo que equivale, como lhe chamou um crítico francês, a um grand n''importe quoi. O mundo ficará dividido perante este filme, o que nem é um coisa má de acontecer. E nós do lado dos exasperados. Não tanto como em Japón, o insuportável primeiro filme de Reygadas, mas menos do que em Stillet Licht, o seu mais curioso (e conseguido) filme precedente. Sobretudo por causa de certos planos com florestas e natureza, onde de facto se fica com o que está lá, e que nem a grande manápula de Reygadas consegue estragar.

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