O cenário e as circunstâncias mudam, mas ainda assim são várias as similitudes entre Para Lá das Colinas e o mais célebre filme de Cristian Mungiu, 4 Meses, 3 Semanas, e 2 Dias. A ligação entre duas protagonistas femininas, sobretudo, como forma de pintar um ambiente altamente opressivo: a “nova vaga romena” tem-se preocupado essencialmente, com maiores ou menores desvios, em tratar do tempo de Ceausescu e das suas persistências na época contemporânea - era esse o âmbito de 4 Meses, mas também de Histórias da Idade de Ouro, o filme de sketches organizado por Mungiu e igualmente por cá estreado. Aqui a política cede lugar à religião, para uma observação das entranhas romenas e de atavismos que ultrapassam em muito a “idade de ouro” e são quase uma coisa medieval, como propriamente “medieval” é a ligação, no centro do filme, entre a sexualidade feminina e o demonismo. Mungiu filma admiravelmente, com o mesmo rigor, às vezes impressionante e frequentemente sufocante, que lhe conhecíamos de 4 Meses. Ainda assim, falta-lhe qualquer coisa - aquele humor sibilino, aquela cortina de fumo da psicologia - para nos entusiasmar tanto como Cristi Puiu, ou como o Porumboiu de Politist, Adjectiv (que lamentavelmente ficou por estrear em Portugal).
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