Homens sempre em pé

É uma pena que o cinema americano tenha desaprendido de lidar com os seus velhos. Claro que há Clint Eastwood e, de outra maneira, Robert Redford, mas são excepções que confirmam a regra. Robert De Niro, por exemplo, está praticamente reduzido a um papel de comparsa em filmes que não são dele nem verdadeiramente para ele (ver o último David O. Russell, por exemplo). E de Al Pacino, protagonista de Gangsters da Velha Guarda, contam-se pelos dedos de uma mão os filmes à sua altura em que entrou na última década e meia. Razão suficiente para que, à partida, o filme de Fisher Stevens mereça toda a simpatia: reunir um trio protagonista em que o mais novo tem 70 anos (Christopher Walken), o mais velho 79 (Alan Arkin), e o do meio 73 (Pacino). Pormenor nada irrelevante, são também três dos melhores e mais carismáticos actores americanos dos últimos 40 anos, pelo menos.


Não é motivo para matar essa simpatia à nascença, mas também depressa se percebe que o cinema de Gangsters da Velha Guarda se esgota neste combo e nesta ideia de casting. O título original é mais preciso: Stand-Up Guys. E é como protagonistas de stand-up - em vários sentidos, inclusive o propiciado pelo Viagra - que Fisher Stevens os filma, à falta de um argumento forte e de uma ideia precisa sobre o que fazer com estes três homens, agora que eles aqui estão juntos. Casa o folclore do filme de gangsters com a noite da cidade e a enésima variação, quase slapstick, sobre os Maridos de Cassavetes, homens crescidos à solta com tendência para o disparate. Pisca o olho ao gangster movie pós-Tarantino e especialmente ao seu sadismo: os três amigos salvam uma rapariga (uma das miúdas que ficavam sem perna no Deathproof) e depois deixam-na a vingar-se, com um taco de beisebol e uma referência ao Quebra-Nozes, dos mânfios que a violaram. Eles próprios têm coisas para resolver entre os três, e o tom geral é o de alguma coisa parecida com um “último hurrah”. Mas fica sempre uma coisa “nem nem”, nem leve e desopilante, nem realmente significativa em termos dramáticos. Vale que, embora às vezes prometa (o bordel e o ataque de priapismo de Pacino, como um Porky''s para maiores de 70), não se fica liminarmente pelo disparate. Se falha, falha com alguma dignidade. Ainda assim, e pensamos nisso sobretudo a propósito da presença sempre discreta e magoada de Walken, acaba-se de ver o filme com uma sensação de desperdício. Em resumo: toda a simpatia não basta para deixar de ter Gangsters da Velha Guarda na conta de uma oportunidade perdida.

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