Sou emigrante — e depois?

Hoje, os jovens que emigram têm a vida bem mais facilitada. São instruídos. Sabem falar a língua do país de destino. Têm uma profissão bem mais reconfortante do que a construção civil

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Dr John 2005/Flickr

Olá, eu sou o Rui e sou emigrante. Actualmente resido em Maputo e deixei Portugal há cerca de três meses. Podia ser este o início de uma hipotética sessão de emigrantes anónimos, se tal existisse. Contudo, ao contrário do que se tem discutido em Portugal, estou longe de ver a emigração como um problema.

Há cerca de uma semana, li uma reportagem na revista "Sábado" na qual eram relatadas as experiências — e extremas dificuldades — de vários miúdos, em irem à escola. Atravessar rios, escalar montanhas ou caminhar sobre pontes de madeira em ruínas, tudo aqueles miúdos faziam — e fazem — para receberem algo que está consagrado na Declaração Universal dos Direitos Humanos: Educação. Eu, felizmente, não passei uma ínfima parte do que essas crianças passam e agradeço-o ao país que me viu nascer.

Contrariamente ao que as pessoas possam pensar, a nova vaga de emigração difere muito daquela dos anos 60, quando uma geração foi obrigada a emigrar. Hoje, os jovens que emigram têm a vida bem mais facilitada. São instruídos. Sabem falar a língua do país de destino. Têm uma profissão bem mais reconfortante do que a construção civil ou a limpeza da casa. E isso devem-no ao país que é muitas vezes injustiçado pelos seus moradores: Portugal. 

Estou bem ciente que a generalização pode, em grande parte, ser injusta e, há casos em que me é impossível esconder a desilusão com o meu país porque, apesar de amar Portugal, também lhe reconheço defeitos. Todavia, isso é transversal a todas as pessoas. E se um país é constituído por pessoas, como é que Portugal não poderia ter defeitos? 

Contudo, se é verdade que as pessoas têm defeitos, têm-no igualmente qualidades. Como Portugal. E o acesso à educação é uma delas. 

A realidade é que nunca se chegará a um consenso nestas matérias que envolvem as vidas das pessoas. Uns concordarão comigo e outros, com toda a legitimidade, discordarão. O que eu posso afirmar é que, emigrante à força ou não, isso não nos pode reduzir ou definir. Há vida para lá da emigração. Os Estados Unidos são, desde a sua formação, constituídos por emigrantes, alguns de forma forçada e outros em busca da Terra Prometida. Actualmente são somente — e desde há largos anos — a maior economia do planeta.

Por essa e muitas outras razões, espero que todos aqueles que, em conjunto comigo, habitam fora de Portugal, não me ponham um rótulo em cima: o de que fomos expulsos do nosso país. Não sei se o meu futuro será, ou não, em Portugal, mas sei duas coisas: que devo estar agradecido ao meu país e que a felicidade, não se reduz ao local onde nascemos. O que seria de Portugal se D. Afonso Henriques pensasse assim?

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