Hypeness, o site feito por um "casal sem vergonha"

Em Ilhabela não há semáforos mas há Internet. É a única condição necessária para que Eme e Jaque, um casal que criou dois sites de sucesso no Brasil, consigam trabalhar. Hypeness e Casal Sem Vergonha chegam a milhões de pessoas

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Cristiane Schmidt

Eme Viegas e Jaqueline Barbosa são uma dupla, “no trabalho e fora dele”. Vivem juntos em Ilhabela, no Brasil, e criaram os sites Hypeness e Casal sem vergonha, cujos artigos circulam um pouco por todo o universo de língua portuguesa. Quisemos saber como se conheceram. E eles responderam a todas as perguntas do P3. “Parece mentira mas foi pela Internet”, começa Jaque. E continua: “Quando o Orkut era a principal rede social por aqui, encontrei o perfil do Eme e interessei-me. Insisti tanto que consegui a atenção dele”. Saíram para se conhecerem e não se largaram mais.

Isto foi há quatro anos. Na altura viviam em São Paulo, onde ambos nasceram; Jaque trabalhava como tradutora e professora de inglês e Eme como publicitário. Sempre em stress. Um dia acordaram e perceberam: “Não estamos felizes”. Foi um dia normal, o tal em que o clique aconteceu. “Sempre que esse sentimento nos atinge, é o coração a dizer para mudar”, diz Eme. Começaram, então, “a correr atrás”.

De tradutora e publicitário passaram a produtores de conteúdo. “Queríamos fazer algo mais autoral, mais criativo e inspirador”, conta Eme, para quem a possibilidade de trabalhar e viajar, com um horário próprio, sempre foi aliciante. Mudaram de vida — e, por isso, o projecto Continuecurioso fez um vídeo sobre eles (vê vídeo ao lado).

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Em Ilhabela, os dois jovens vivem no meio da natureza, numa agrovila Cristiane Schmidt

Isto foi há dois anos e meio. O Hypeness e o Casal sem vergonha surgiram juntos, como uma forma de Eme e Jaque solucionarem um problema. Foi assim que se mudaram daquela cidade “caótica” para Ilhabela — “uma ilha que nem semáforos tem”, aponta Jaque, editora de conteúdos (Eme é director de novos negócios e planeamento).

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Apesar de trabalharem juntos, em casa, cada um ocupa um andar Cristiane Schmidt

Sites que pagam a renda

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Eme e Jaque estão juntos há quatro anos e há mais de dois que decidiram mudar de vida Cristiane Schmidt

O Casal sem vergonha, diz Jaque, “é o único site brasileiro que trata de comportamento e sexualidade de uma forma inovadora”. Daí as 2,5 milhões de visitas mensais que regista, uma ideia que começou por ser um projecto de livro e evoluiu para um site.

Artigos com títulos como “Felizes para (quase) sempre: os  maiores desafios dos relacionamentos longos” ou “Os opostos se atraem — por que você não deve acreditar nessa mentira” era algo que faltava aos leitores brasileiros, “modernos, que têm uma visão mais livre de relacionamentos e que não são tão presos aos tabus”. “Não menosprezamos a inteligência dos nossos leitores”, reforça a jovem.

Já o Hypeness, descreve Eme, é o “primeiro site brasileiro focado em inovação”, com “conteúdo inspirador em várias áreas, como arte, fotografia, design, empreendedorismo, sustentabilidade”.

Hoje são os dois sites que lhes pagam a renda (juntos somam mais de cinco milhões de visitas por mês). É um “full time job” feito a partir de uma “agrovila” no meio do verde e dos animais. Entre artigos sobre tecnologia ou sexualidade, Jaque e Eme podem cruzar-se com galinhas, patos, cobras, lagartos, cães e passarinhos, “todos da comunidade”.

Um projecto de vida

São, sobretudo, profissionais naquilo que fazem, define Jaque. “A Internet abre a possibilidade para toda a gente criar conteúdo mas, justamente por isso, só os bons profissionais conseguem estabelecer-se no mercado.”

Para Eme, de 30 anos, ambos os projectos têm sucesso porque se tornaram no projecto de vida do casal. “Estamos no foco e na fé desde o início, acreditando que vai dar certo e dando o nosso máximo para fazer isso acontecer”, remata.

A receita que seguem para ter sucesso a trabalhar a partir de casa é igual à de todas as pessoas que também o fazem: “É preciso ter mais disciplina do que se estivesse num escritório com o chefe a controlar tudo”, diz Jaque, 24 anos, para quem não têm chefes, antes clientes. Trabalham entre dez a doze horas por dia. “Parece muito mas envolvemo-nos tanto com o trabalho que o dia voa.” Cada um ocupa um piso da casa e encontram-se “eventualmente para discutir sobre algum tema, fazer 'brainstorming'”.

Pelo meio, e sempre que lhes apetecer, podem fazer uma pausa no meio da natureza e dar um mergulho no mar. Porque Ilhabela não tem semáforos mas tem praia. E daquela de aspecto paradisíaco de fazer inveja.

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