Furiosa ambição

Uma óptima descoberta esta estreia dos The Quartet of Woah!. Wow. Uau!

No rock'n'roll a ambição ganhou má fama. A razão para tal vem lá de trás, do tempo em que os Emerson, Lake & Palmer achavam que erguer o rock à dignidade de alta cultura implicava encher 500 camionetas com músicos e material para tocar peças de Mussorgsky com a sobriedade de Nero num teatro romano. A ambição é, porém, uma coisa bonita - por exemplo, os “básicos” Sex Pistols, que até espoletaram uma revolução musical e cultural, eram bem mais ambiciosos que os Emerson, Lake & Palmer.

É essa ambição que nos cativa nos Quartet Of Woah! - assim mesmo, com ponto de exclamação, que a banda de Gonçalo Kotowicz, Rui Guerra, André Lopes Gonçalves e Miguel Costa não aprecia a discrição (e só faz bem). Ambição neste sentido: Ultrabomb é um álbum conceptual à antiga (misto de Big Brother, de Orwell, com Sf Sorrow is Dead, dos Pretty Things) e não tem qualquer vergonha em sê-lo. Porque, e aqui chegamos ao que aqui interessa, Ultrabomb rocka de forma feroz, sem quaisquer constrangimentos. Tem o órgão Hammond a rasgar ainda mais o caminho aberto pelos riffs de guitarra e pela cavalgada do baixo, tem um baterista que toca com o peso de Bonham, mas livre e imprevisível.

O segredo de Ultrabomb está no seu equilíbrio. Afinam-se as vozes à volta de um piano, lembramonos das operetas rock dos Queen ou dos Sparks e, menos de dez segundos depois, a guitarra entra em cena, a bateria maltrata pratos e peles e olhamos para a prateleira de discos em busca do M de Monster Magnet (Ultrabomb). Passamos por The announcer e, noutras mãos, a canção poderia ser peça polida, arranjadinha, inofensiva. Com os Quartet of Woah! ( já repararam no ponto de exclamação), temos riffalhada Hendrixiana, o órgão a borbulhar furiosamente e uma banda entregue, muito simplesmente, ao prazer deste ruído alimentado a electricidade.

Os Quartet of Woah!, clássicos sem constrangimentos (os anos 1970 são agora e não há anacronismo nisso), são blues rock em fusão nuclear, são o planar dos Pink Floyd movido a anfetaminas, são gente muito séria, competentíssima nos respectivos instrumentos, a privilegiar aquilo que têm de mais visceral - os momentos instrumentais, ora comandados pelo órgão, ora pela guitarra, revelam-no totalmente, para prazer do headbanger ou dançarino furiosamente saltitante que existe dentro de nós. Uma óptima descoberta esta estreia dos The Quartet of Woah!. Wow. Uau!

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