Paris prepara-se para a mãe de todas as manifestações contra o casamento gay

A feroz oposição de uma parte da sociedade francesa ao "casamento para todos" vai ter mais um momento de demonstração de força. Governo critica extremistas.

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Os protestos contra o casamento gay têm sido quase diários Benoit Tessier/Reuters

O objectivo da convocatória é mostrar que a direita francesa vai lutar até ao fim, dois dias antes da prevista aprovação no parlamento da lei que legaliza o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a adopção por estes casais.

Furioso porque o governo acelerou o calendário legislativo para aprovar o pacote “Casamento para todos”, o colectivo “Manif para todos” decidiu marcar esta manifestação, mantendo em calendário uma outra para o próximo domingo. Paralelamente, os opositores mais radicais multiplicaram ao longo da última semana ações e manifestações espontâneas, muitas delas violentas.

“Há meses que François Hollande e o seu governo têm desprezado os opositores ao casamento e adopção por casais do mesmo sexo e recusam-se a ouvir”, escreveu Copé numa carta aos militantes.  

O executivo e maioria de esquerda condenaram a radicalização dos opositores ao “casamento para todos” depois de ter sido anunciada a aceleração do calendário da aprovação do projecto-lei. O ministro do Interior, Manuel Valls, apelou ao colectivo “Manif para todos” a rejeitar nas suas fileiras os grupos de extrema-direita que procuram, segundo ele “provocar a República”. Mas a oposição denuncia o governo por “misturar grosseiramente” as massas de “franceses pacíficos mas exasperados e um punhado de extremistas isolados que já foram publicamente condenados”.

Contrariamente a outros países de tradição cristã que já legalizaram o casamento gay em clima de paz social (Portugal incluído), a França laica e republicana está a viver um verdadeiro psicodrama em torno desta revolta. Juntos no combate ao “casamento para todos” estão a extrema-direita mais radical, a UMP e os católicos integristas.

Para o sociólogo e eurodeputado centrista Robert Rochefort, citado pela AFP, o casamento gay “está inscrito na história” e com o tempo será uma realidade “em todos os países ocidentais”. Mas os “medos” expressos por uma fatia importante da opinião pública em França traduzem “uma sociedade frágil” sobre a questão das “identidades”.

Michel Wievorka, outro sociólogo, explica que a oposição ao projecto-lei cristalizou-se em redor da questão da adopção, expressando as suas inquietações “ligadas à vida, à morte, à procriação, a filiação”, inquietações próprias dos meios católicos “mas não só”.

O politólogo Jean-Yves Camus, sublinha a “especificidade francesa”, aquela onde “duas Franças” continuam a desafiar-se. Um país onde a separação entre o cultural e o político se fez de forma violenta. Um país onde o casamento não é um simples contrato entre dois indivíduos, mas “um pilar da sociedade”. Um país onde o catolicismo intergista, muito minoritário, tem raízes profundas. E onde a esquerda continua a ser considerada como ilegítima para governar por uma parte da direita.
 
 

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