O futebol e as particularidades da altitude

Confesso que me inquietou ver na televisão a cara de sofrimento de Di María a necessitar de oxigénio e, no mesmo jogo de apuramento para a fase final do Mundial do Brasil, realizado a 27 de Março em La Paz, Bolívia (3650 metros acima do nível do mar), Messi chegar a vomitar. Já antes a FIFA, devido a pressões, decretou a proibição de jogos acima dos 2500 metros de altitude, mas estes países dos Andes recorreram e conseguiram que este organismo que gere o futebol mundial, respeitando a universalidade desportiva, voltasse atrás e permitisse os jogos.

Estudos já realizados evidenciam riscos na prática desportiva em altitude, no entanto existem dificuldades na comparação dos resultados, principalmente no que toca às diferenças de altitude, tempo de exposição à mesma, alimentação e individualidade biológica. Uma coisa é certa: além da diminuição da temperatura do ar (6,5 graus a cada 1000 metros, aproximadamente) e aumento da intensidade dos raios solares, quanto maior for a altitude, mais o ar é rarefeito e menor será a pressão atmosférica (a bola fica mais leve e pode sofrer trajetórias ainda mais “caprichosas”).

Com isto, e de uma forma simplista, além do incómodo originado pelas condições climatéricas, o organismo dos jogadores sofre alterações no seu funcionamento e durante o período de adaptação à altitude podem ocorrer desconfortos vários: respiração mais curta, dores de cabeça, náuseas, vómitos, tonturas e chega a ocorrer perda de apetite e insónias, nalguns casos. Em consequência disso, no jogo o rendimento desportivo pode cair.

Então o que pode ser feito para competir nestas condições sem grande perda de rendimento e riscos para a saúde dos jogadores? A resposta está sobretudo na adaptação, e aí reside o problema. O calendário competitivo não permite que as seleções e as equipas de futebol disponibilizem tempo suficiente (semanas) para uma adequada adaptação à altitude, apesar de existirem algumas coisas passíveis de serem feitas de forma a minorar o desconforto e o risco (botijas de oxigénio à volta do campo, por exemplo).

No meio da inquietude desta situação, lembrei-me de Mário Jardel, que a determinada altura terá dito, “O cara corre muito, parece que tem dois pulmões”. Nestas condições, aos jogadores inadaptados e em sofrimento para respirar, é preciso é pulmão para jogar...

* Artigo publicado respeitando a norma ortográfica escolhida pelo autor

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