Não é preciso construir o Louvre cada vez que se quer usar as novas plataformas digitais

Os produtores (e os marketeers) não devem, cada vez que querem lançar um novo projeto audiovisual ou marca, tentar criar o Museu do Louvre com suas dezenas de quartos e corredores

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Sebastien Pirlet / Reuteurs

Ao longo dos últimos anos tenho sido convidado para júri em diversas competições e cerimónias de prémios para conteúdos de entretenimento, analisando, quer séries já produzidas ou projetos em fase inicial de desenvolvimento.

Esta atividade fez-me constar que hoje em dia, quase todos os projetos de conteúdos para Televisão e Cinema vêem acompanhados de conteúdos complementares para as redes sociais, de aplicações para telemóveis e tablet.

Mesmo em Portugal é comum já encontrar conteúdos audiovisuais a serem complementados por conteúdos digitais para captar as atenções das audiências mais jovens. No entanto, na maioria dos novos projetos com uma abordagem multiplataforma, a lista de meios é quase sempre a mesma e inclui a tradicional página de fãs do Facebook, a conta no Twitter, a aplicação para telemóveis, o microsite e muitos outros conteúdos comuns que já vimos muitas vezes antes.

A preocupação da maior parte dos produtores é seguirem as tendências e as modas e não pensar de que forma as redes sociais e as novas plataformas podem realmente cativar as novas geração de espectadores. A maior parte dessas extensões digitais são pensadas em termos de marketing e não como uma forma de contar histórias.

A abordagem multiplataforma seja de uma série de televisão, filme, jogo (ou mesmo de uma marca comercial) precisa de ser orgânica à história e as personagens devem ganhar vida através destas novas plataformas. O desenvolvimento desta estratégia digital deve ser integrada no processo criativo e não numa uma lista de atividades de marketing a realizar.

Para explicar este conceito, numa destas cerimónias de prémios acima referidas, usei a Mona Lisa, o famoso quadro de Leonardo Da Vinci para explicar a um produtor europeu que, neste caso, menos pode significar mais. É um fato conhecido que, uma grande percentagem de visitantes do Louvre, dentro do museu, se focam na Mona Lisa e apenas percorrem os corredores que vão da entrada principal até à sala da obra de Da Vinci. Mas o museu tem muitos outros corredores e salas de exposições que não são tão populares: eles são apenas vistas por uma pequena percentagem dos visitantes.

O que estava a tentar explicar ao produtor era que o foco de qualquer criador deve ser na sua Mona Lisa, a história principal, as personagens e elementos centrais da série ou filme, e os "corredores" que levam os visitantes até ao quadro serão as experiências digitais que criamos à volta do conteúdo.

Os produtores (e os marketeers) não devem, cada vez que querem lançar um novo projeto audiovisual ou marca, tentar criar o Museu do Louvre com suas dezenas de quartos e corredores, especialmente se os recursos financeiros são limitados, mas sim usar as novas tecnologias para facilitar o acesso das audiências às suas histórias (ou dos consumidores aos seus produtos).

Desde finais de 2011 que na beActive temos vindo a desenvolver um destes universos multiplataforma, o Beat Girl. O projeto iniciou-se nas redes sociais, mais concretamente no Pinterest como uma fotonovela e, lentamente, a história estendeu-se ao Youtube, aos livros, a um programa de TV e agora a um filme que irá estrear nas salas de cinema portuguesas (e em alguns países europeus) já no próximo mês de Maio. Ou seja, em vez da estratégia de comunicação digital ser pensada com uma lista de atividades de marketing, ela é integrada na própria história, envolvendo audiências e fãs desde a génese do projeto.

Este texto foi escrito conforme o Acordo Ortográfico

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