Laurence para Sempre

A bem dizer, Laurence Anyways só tem um propósito: vestir Melvil Poupaud in drag. Mas a psicologia, inclusive a “psicologia da diferença”, é fraca, e infelizmente o filme está inundado dela, em cenas muito palavrosas sempre a tenderem - sobretudo as cenas conjugais - para a histeria, como se também se tratasse de pôr um filme de Cassavetes in drag. Mas como já acontecia no anterior filme de Dolan, Os Amores Imaginários, a réplica sai pobre e frequentemente bastante enervante. Não espanta que a melhor cena - a entrada de Poupaud, em tailleur, na sala de aula - dispense palavras; ficam todos calados e por instantes pensamos que Dolan vai lançar qualquer coisa parecida com um burlesco: um homem em choque com o cenário, físico e social, que o envolve. Mas não lança nada, fiel ao seu programa de ilustração de um “afirmação”, e até ao fim reina o novelo das “relações humanas”, embrulhado duma maneira que seria errado, apesar da muita synth-pop “andrógina” dos anos 80 espalhada pela banda sonora, confundir com um melodrama.

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