Geração de 80!

Esta é a geração que nega a formalidade cívica e democrática, que multiplica as vozes informais nas redes sociais, mas que é incapaz de ter formalmente voz

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Cali4beach / Flickr

Faço parte de uma geração que não viveu Abril nem o PREC. Para quem Angola e Moçambique são e sempre foram países independentes e a Guerra Colonial não passa de histórias de familiares e amigos. Esta geração vê-se parte integrante da Europa sem fronteiras e tem o Euro como a sua moeda. Viu o muro de Berlim cair, mas não sabe o que é viver em Guerra Fria. Tem para si que o Mundo é global e que a guerra ao terrorismo não justifica todos os meios. Navega na internet com a naturalidade com que outrora navegámos os oceanos. Cresceu vendo a libertação do povo maubere e cantando “Timor” com um frio miudinho a percorrer-nos o corpo.

Esta geração tem uma adjetivação esquizofrénica. Somos simultaneamente rascas cá dentro e cobiçados lá fora, qualificados e desempregados, ignorantes e empreendedores.

A geração que é rasca é a que é disputada internacionalmente pela sua qualidade técnica e humana. Deitamos abaixo o valor da nossa educação para que outros nos elogiem e gabem a preparação que adquirimos. Somos os que trouxemos patentes, produção científica e tecnológica sem paralelo, mas também somos aqueles para quem o futuro é precário e incerto. Somos etiquetados como ignorantes, mas nunca como nesta geração se viveu na Europa, se conheceu o Mundo e se empreendeu tecnológica, social e civicamente.

Somos eternamente “garotos”

Somos, então, apelidados de mimados apesar de pagarmos a nossa saúde, não termos direito a crédito para habitação e de não sabermos se teremos reformas no futuro. Somos eternamente “garotos” mesmo que mais velhos do que a idade com que outros, outrora, tomavam grandes decisões. E ouvimos, hora após hora, dia após dia, que somos muito novos para sabermos do que falamos, mesmo quando os argumentos, a justificação e a razão estão do nosso lado. Somos excluídos das decisões, mesmo quando os problemas exigem soluções inovadoras, nunca antes testadas nem sequer pensadas. Recusamos fazer parte de um jogo de soluções aquecidas, frases feitas e demagogia sem alcance.

Esta é a geração que nega a formalidade cívica e democrática, que multiplica as vozes informais nas redes sociais, mas que é incapaz de ter formalmente voz.

O que quero (e acredito que queremos) não é um emprego para a vida, mas um emprego que permita começar uma vida. Não queremos uma habitação adquirida mas sim a liberdade de adquirir (ou arrendar) uma habitação. Queremos ter filhos com a dignidade e a cabeça erguida e não dependendo da ajuda dos avós. 

Mas nós somos também a geração verde, que rejeita a dependência excessiva e criminosa nas energias fósseis para gáudio de alguns e sofrimento de todos. Ou ainda a geração que desafia a política baça, os compadrios e os interesses obscuros. Sonhamos com uma Europa dos cidadãos em que salário igual para trabalho igual não é apenas uma prorrogativa da Comissão e Parlamento Europeu e recusamos ser a primeira geração em séculos a retroceder civilizacionalmente. Queremos sim um Mundo global e justo, onde a justiça social e a solidariedade entre todos sejam a conduta cívica essencial e onde todos independentemente de raças, credos ou nacionalidades tenham uma vida digna acima do limiar da pobreza e respeitando os direitos do Homem e da Criança. 

Se Darwin continua a ter razão então a próxima geração é melhor que a minha e ainda bem!

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