Beatriz Talegón é a porta-voz do que os jovens dizem nas ruas

Jovem atraiu atenções ao criticar dirigentes socialistas que "preparam a revolução em hotéis de cinco estrelas". É acusada de se colar demasiado à política, mas diz que trabalha desde os 16 anos e até já serviu no McDonald’s

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Beatriz tem 29 anos e é licenciada em Direito IUSY/ Flickr

Há quem lhe chame “apparatchick” [rapariga do aparelho] e a acuse de se colar demasiado ao partido Partido Socialista Obrero Español (PSOE) e à Administração Pública, em cargos políticos. Mas depois do discurso que fez na reunião da internacional Socialista, em Cascais, na semana passada, Beatriz Talegón colocou-se no limbo - entre o amor e o ódio, entre a coragem e a incoerência - e pôs os socialistas a falar sobre... socialismo.

 

A jovem de 29 anos, licenciada em Direito, recusa o apelido de “apparatchick” e repetiu nas muitas entrevistas que deu nas últimas semanas, depois de o vídeo onde aparece ser ter tornado viral, que fala três línguas, já fez voluntariado e que trabalha desde os 16 anos – já deu aulas de música, serviu no McDonald’s e trabalhou como advogada. 

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Secretária-geral da União Internacional de Jovens Socialistas durante o discurso feito em Portugal DR

 

Viajar em executiva, garante, nunca viajou, “por questão de princípio”. Porque acredita que não pode defender-se o socialismo em hotéis de cinco estrelas e carros de luxo, disse a secretária-geral da União Internacional de Jovens Socialistas (IUPY, na sigla inglesa), Beatriz Talegón, no discurso proferido em Portugal.

 

Actualmente, vive do salário da IUPY, que lhe garante 2500 euros por mês, apesar de 1000 irem para impostos: “Em Viena, que é onde trabalho no escritório da União Internacional de Juventudes Socialistas, é um salário bastante baixo”, disse ao El País. Antes disso, passou por inúmeros cargos ligados ao PSOE, onde se filiou em 2006.

 

Mais luta nas ruas

Foi conselheira pelo partido em Guadalajara, secretária da Organização da Juventude Socialista em Espanha, participou no Centro de Emancipação do Conselho das Comunidades também em Guadalajara. Foi assessora na embaixada de Castilla La Mancha, depois ocupou o mesmo cargo na delegação socialista no Parlamento Europeu. Mas há mais: foi adjunta da secretária-geral do PSOE em Castilla La Mancha, secretária-geral das Juventudes Socialistas de Espanha na Europa. 

 

A jovem quer ver os socialistas a questionarem-se mais sobre o lugar do socialismo. Queria, por exemplo, ter visto o partido dar a cara nas ruas, junto aos indignados do 15-M. Quem representa o PSOE na renovação que Talegón reclama? “Ninguém. Actualmente não vejo nenhum líder capaz [de o fazer]”, disse ao mesmo jornal espanhol.

 

Que existem jovens com capacidade para o fazer Beatriz Talegón não duvida. Se não fazem mais é “por medo de represálias". "Os partido converteram-se em máquinas de contratar gente a dedo e isso cria súbditos que nunca criticarão.”

 

Beatriz disse em público “o que dizem os jovens nos bares, praças, em qualquer reunião de amigos”, explicou ao Huffington Post. “A esquerda está agora ao serviço das elites, dança com o capitalismo, é burocrática”, lamentou. “Perdeu completamente o norte, a ideologia, a ligação às bases... e isso é algo que a esquerda não pode permitir”.

 

As críticas da dirigente socialista encontraram vários ecos ao longo destes dias. Mas também muitas críticas e até um pedido de demissão assinado pelo secretário-geral da Juventude Socialista em Mallorca, Antoni Bujosa, que acusou Beatriz Talegón de hipocrisia, uma vez que também viaja “em classe executiva” e tem “um salário muito superior às possibilidades de qualquer jovem no Mundo". 

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