Em defesa de Pepa

Sejamos honestos, a futilidade nunca prejudicou ninguém, pelo menos que eu saiba. O que sei, é que não se pode dizer o mesmo de turbas indignadas

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Eu vi o vídeo de Pepa, e depois li os comentários sobre o vídeo de Pepa. Tudo graças à notícia relativa a um pedido de desculpas da Samsung Portugal. Qual é o móbil deste pedido de desculpas? O vídeo de Pepa.

Confesso que, nesta sequência de eventos, o único disparate que encontrei foi o pedido de desculpas da Samsung Portugal. O que posso dizer sobre o vídeo de Pepa? Achei banal. A Pepa quer malas, a Pepa fala de coisas (que devem acontecer), a Pepa menciona que o amor é equilíbrio, a Pepa deseja sorte para 2013. Sim, a Pepa fez tudo isto. E depois? Era suposto a Pepa fazer algo distinto ou diferente?

A intenção do vídeo era abordar algum dilema metafísico? Li que algumas pessoas ficaram indignadas, os comentários destes "indignados", muito susceptíveis, giram em torno de palavras como "futilidade" ou "mediocridade", e, claro, não podia deixar de haver quem dissesse que a Pepa é uma "personagem oca". Lindo!

Pessoas indignadas, salvaguardadas por uma muralha intransponível, constituída por um ecrã e um teclado, dizendo coisas muito civilizadas sobre uma pessoa que realmente não conhecem. Isto é que é dignidade a sério! Fica sempre bem estar por detrás de um ecrã e um teclado a dizer coisas desagradáveis sobre seja o que for.

Não consigo imaginar melhor tipo de indignação do que esta, aquele tipo de indignação que não tem nenhum tipo de consequência para quem se manifesta indignado. Li, também, que várias pessoas não ficaram somente indignadas, sentiram-se insultadas. Vejam lá, insultadas! Eu não compreendi bem qual é o insulto pressentido por estas pessoas. Procurei pelo meu nome, não encontrei.

Não costumo ficar ofendido

A Pepa não menciona o meu nome uma única vez! Depois fartei-me de procurar algum tipo de relação directa ou indirecta daquilo que a Pepa disse, com algum aspecto da minha existência. Nada. Nem um pequenino vestígio, nem sequer um vago indício sobre a minha pessoa. Não sei se faço mal, mas tenho o hábito de só ficar ofendido com os outros em assuntos que afectem-me ou assuntos que prejudiquem outros seres humanos.

De resto, não costumo ficar ofendido com as pessoas. Eu sei, é mania. Já tentei mudar, mas não consigo. Pelo que percebi, a Pepa só aborda aspectos da sua existência. Exclusivamente, da sua existência. Presumo que as pessoas (não só a Pepa) tenham esse direito. Nunca li a Constituição, mas suponho que as pessoas possam abordar aspectos da sua existência de forma fútil e oca. Posso estar enganado. Posso não ter razão.

Isto pode parecer mau, mas não senti nenhuma dor depois de ouvir a Pepa. Não costumo prestar muita atenção à futilidade, acho que é medíocre estar sempre de olho atento à futilidade dos outros, especialmente, quando estamos bem protegidos pela multidão ou por uma muralha feita de ecrã e teclado. Recordam-se da frase que escrevi? Aquela que menciona que este tipo de coro de indignados é aquele tipo de indignação sem consequências? Sabem o motivo disto?

Digamos que eu conheço algumas mulheres fúteis, terrivelmente fúteis, e teria imenso gosto de ver os digníssimos cidadãos, muito cheios de zelo, dizendo na cara destas mulheres, as mesmas coisas que disseram sobre Pepa. Convido, com muito gosto, os honrados e ilustres cidadãos indignados, a tecerem exactamente o mesmo tipo de apreciação superficial e mesquinha, que fizeram sobre de Pepa, a estas mulheres.

Mas desta vez, não protegidos pela turba ou pela muralha dos ecrãs e dos teclados. Uma confrontação directa e frontal com estas mulheres sobre a futilidade de gostar de malas e parecer medíocre e oca. Isso é que eu queria ver! Sejamos honestos, a futilidade nunca prejudicou ninguém, pelo menos que eu saiba. O que sei, é que não se pode dizer o mesmo de turbas indignadas. E disto, tenho a certeza.

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