O interior em Portugal. Portugal na Europa

Quais as melhores políticas que defendem Portugal na Europa? Seguramente as mesmas que poderiam já ter defendido o interior do pais nas crescentes desigualdades regionais e estimulando, por essa via, uma coesão sempre adiada e cada vez mais comprometida.

Tal como no país a chave de uma Europa equilibrada e sustentável está na coesão, sabendo tratar de forma igual o que é igual e, de forma diferente, aquilo que é diferente. Não perceber isso é condenar, à partida, qualquer política regional, nacional e europeia.

Falemos do interior.

Falemos do ataque que o interior está a sofrer. Falemos, por exemplo, das portagens nas ex-SCUT, das mais caras da União Europeia, falemos do encerramento e esvaziamento indiscriminado de serviços públicos (desde logo muitas freguesias rurais mas também tribunais, escolas, forças de segurança, serviços agrícolas, serviços de finanças etc., etc.), falemos do fim dos benefícios fiscais ao interior, das taxas de IVA sempre superiores às do país vizinho. Falemos de milhares e milhares de pessoas distantes da rede de gás natural ou dos caminhos-de-ferro que deixaram de servir em qualidade e trajeto as regiões do interior. Falemos das populações mais envelhecidas do país, de um país que esqueceu as terras a que outrora deu foral. Falemos de um país que pressionado pela necessidade de um resgate financeiro internacional ainda não entendeu que a solução do problema está mais em crescer e produzir e menos em cortar e poupar, irracionalmente, no potencial nacional.

Falemos na injustiça que é pagarem-se os mesmos impostos no litoral que no interior quando aquilo que os cidadãos do interior recebem do Estado é muito menos do que no litoral (na rede de transportes públicos, na prestação de cuidados de saúde, na educação, nas acessibilidades, na cultura, no emprego, etc.etc.).

Falemos na incongruência que é o facto de os serviços do Estado, cuja principal atividade tem precisamente a ver com os territórios do interior, estarem sediados em Lisboa e não, como deveria ser, junto às suas principais atividades, que deveriam apoiar, como é o caso de dezenas e dezenas de serviços das áreas do ambiente e da agricultura que estão sediados na capital do país.

Falemos no que é viver em regiões onde, desde há décadas, se morre mais do que se nasce e onde o melhor emprego é quase sempre migrar.

Falemos de Portugal. De um país distante do centro da Europa, um pais que nos últimos anos comprometeu boa parte da sua capacidade nos sectores primários e secundários em troca de uma integração política, económica e monetária num espaço comum europeu.

Falemos de um país que no espaço europeu sempre foi mais encorajado a consumir do que a produzir, e em que hoje, tal como o interior, está envelhecido, morrendo-se mais do que se nasce.

Falemos de um país onde os jovens, cada vez mais, emigram. De um país que deixou de acreditar na autenticidade da política e por isso não acredita em desígnios.

É verdade, vivemos tempos cada vez mais difíceis. Tempos, apesar de tudo, menos duros do que aqueles que Portugal viveu antes da revolução de Abril de 1974, mas tempos seguramente mais incertos e confusos e em que apenas sabemos que o futuro depende, cada vez menos de nós.

Tal como acreditamos em Portugal, acredito que o interior, tão continuamente esquecido e atacado pode e deve fazer parte da solução ajudando o país a ser menos dependente do exterior.

A finança, os especuladores, o diretório, o eixo Paris-Berlim ou apenas a Sra. Merkel têm ajudado a empurrar Portugal para uma cada vez mais evidente espiral recessiva de crise, depressão, desemprego, empobrecimento e emigração.

Afinal nada de novo para as populações deprimidas e envelhecidas do interior de Portugal. Afinal foi isso mesmo que lhes aconteceu nas últimas décadas: um ciclo vicioso de abandono que nos dias de hoje apenas mudou de escala e subiu do nível regional para o nível nacional.

Falemos de oportunidades. Falemos de terras que ainda hoje têm o mesmo potencial produtivo que tinham quando o país se sustentava a ele próprio. Falemos de um programa nacional de repovoamento defendido pelo Presidente da República em 2010. Falemos das soluções que os atuais governantes propunham quando estavam na oposição como salários diferenciados por regiões, menos impostos para o interior ou na atribuição de quotas de imigrantes para os territórios mais deprimidos.

Falemos do futuro e das novas gerações que nos exigem a seriedade e visão que muito tem faltado em Portugal e na Europa.

O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico

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