Imigrantes em Portugal têm os níveis de escolarização mais baixos da OCDE

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Imigrantes vindos de países que falam português representavam 65% do total de não-nacionais em 2009 Daniel Rocha

Os estrangeiros a trabalhar em Portugal têm um baixo nível de educação e emigraram por estarem desempregados. Não são mais nem menos pobres do que os portugueses. Mais de metade falam a língua local, mas 17% sentem pertencer a um grupo discriminado.

Os números são de um relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) sobre imigração e a integração dos imigrantes, apresentado esta segunda-feira em Paris, e são principalmente referentes a 2009. Nessa altura, quando os efeitos da actual crise ainda não se faziam sentir como agora, havia 673 mil estrangeiros a trabalhar em Portugal, que representavam 6,3% do total da população.

Nove em cada dez estrangeiros a viver no país tinham entre 15 e 64 anos e a maior parte dos filhos de imigrantes tinha pais africanos. Um quarto desses imigrantes tinha chegado a Portugal nos anos 1990.

No retrato da situação dos imigrantes nos países da OCDE, os que escolheram Portugal aparecem em último lugar, no que respeita ao nível de educação na faixa etária entre 15 e 64 anos. São cada vez menos os licenciados a procurar Portugal, que lidera a lista dos países cujos imigrantes têm menos estudos. Seguem-se a Finlândia, Grécia, Itália, Espanha e França. No extremo oposto, Reino Unido, Israel, Irlanda, Luxemburgo e Austrália.

Em Portugal, tal como em França, cerca de 40% dos imigrantes afirmam ter chegado antes de completar 15 anos, 25% saíram do seu país à procura de emprego, 23% vieram juntar-se à família. Apenas 3% chegaram para estudar e 1% por razões humanitárias.

A população que mantém a nacionalidade do país onde nasceu atinge 31% em Portugal, que tem "uma grande percentagem" de imigrantes nascidos em África (45%), principalmente em Angola, Cabo Verde e Moçambique, e na América Latina (Brasil). A OCDE salienta, aliás, que subiu o peso dos imigrantes vindos de países que falam português, atingindo 65% do total de não-nacionais há três anos.


Tão pobres como os nacionais
Portugal está no grupo dos países em que os lares com pelo menos uma pessoa imigrante se situam entre 40% e 50% do total.

Quanto à obtenção de nacionalidade portuguesa, no período entre 2000 e 2004, a média anual foi de 1253. Um número que cresceu para 24.478 em 2010, representando 5,4% da população, segundo a OCDE.

Em 2009, a taxa de emprego era de 70% para os estrangeiros entre os 15 e os 64 anos e de 60% para os nacionais. Um terço dos imigrantes empregados tem um trabalho temporário e dois terços dos que têm formação superior estão em empregos para os quais têm qualificações a mais.

Só há seis países na OCDE em que as taxas de risco de pobreza são “comparáveis” entre imigrantes e nacionais, e um deles é Portugal. Em média, é mais elevada para os imigrantes (17,3%) do que para o resto da população (15%). Em 2008, a pobreza atingia 14,4% das pessoas a viver em agregados familiares com imigrantes. Um quinto vivia em casas sobrelotadas, o dobro dos valores registados entre os nacionais.

Entre 2002 e 2010, cerca de 17% dos imigrantes dos 15 aos 64 anos consideravam pertencer a um grupo que é, ou foi, discriminado devido à sua etnia, nacionalidade ou raça. Esta percentagem ultrapassa os 20% quando os estrangeiros vêm de países mais pobres.

No que diz respeito à educação, as diferenças na leitura entre imigrantes e nacionais é mais acentuada em países do Sul da Europa, como Portugal. Por outro lado, os conhecimentos dos filhos de imigrantes, já nascidos no país, "é particularmente baixo" em Portugal e Espanha, onde mais de metade deles completaram, na melhor das hipóteses, o ensino secundário, comparado com 40% dos imigrantes com idade entre 25 e 34 anos.

 

Rendimentos mais baixos
Entre 2000 e 2010, o número de imigrantes a viver nos 34 países da OCDE aumentou em um terço, atingindo os 110 milhões, 9% do total da população desses países. Mas o fenómeno varia muito de país para país. Em 2010, Portugal apresentava uma taxa inferior à média da OCDE, com os imigrantes a representarem 6,3% do total da população.

O Luxemburgo apresenta a maior taxa de população estrangeira (38%), seguida da Austrália, Suíça e Israel, todos com 26% de imigrantes. No extremo oposto estão os países da América Latina, da Ásia e alguns da Europa de Leste, como a Eslováquia, a Polónia e a Hungria, onde a proporção de estrangeiros não atinge os 4%.

Mais de um terço dos 110 milhões de imigrantes nos países da OCDE vivia nos Estados Unidos, sendo que a população norte-americana representa apenas um quarto da população da OCDE. O segundo país com mais imigrantes em números absolutos é a Alemanha, que alberga quase 10% de todos os migrantes na OCDE, seguida da França (7,2 milhões) e do Reino Unido (6,8 milhões).

Apesar das excepções, a regra nos 34 países da OCDE é a de os indicadores sociais e económicos serem piores entre imigrantes do que entre os nacionais. O risco de pobreza é mais elevado, a taxa de desemprego também, em 50%. A probabilidade de terem empregos para os quais têm qualificações a mais também é superior entre os imigrantes: 28,3% contra 17,6% dos nacionais.

Em qualquer dos países os rendimentos dos imigrantes são mais baixos quando comparados com o resto da população. Em metade dos países, está abaixo dos 80% da média nacional. Mas nas famílias mistas, compostas por estrangeiros e nacionais, os rendimentos estão dentro da média – nalguns casos são até superiores. É o que acontece em Portugal, a par da Noruega, da Austrália, da Suíça, do Reino Unido e dos Estados Unidos.
 
 

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