Paula Rego "desolada" com extinção da sua fundação em Cascais

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A Fundação Paula Rego gere o Museu Casa das Histórias, em Cascais, onde se reúnem mais de 700 obras da pintora e do seu marido Foto: Raquel Esperança

"Estou desolada com tantas promessas quebradas." Paula Rego reage assim à proposta de extinção da fundação com o seu nome, mostrando desagrado com o Governo. A pintora questiona a decisão tomada esta semana pelo facto de pôr em causa todo o trabalho que, ao longo dos últimos anos, permitiu criar o Museu Casa das Histórias, em Cascais.

"Estou desolada com tantas promessas quebradas." Paula Rego reage assim à proposta de extinção da fundação com o seu nome, mostrando desagrado com o Governo. A pintora questiona a decisão tomada esta semana pelo facto de pôr em causa todo o trabalho que, ao longo dos últimos anos, permitiu criar o Museu Casa das Histórias, em Cascais.

A artista diz ter recebido "com grande surpresa" a notícia. "Que tristeza. Depois de tanto trabalho, depois de termos um edifício maravilhoso, com um espaço amplo e arejado", lamenta, num curto depoimento enviado ao PÚBLICO. Paula Rego deixa elogios à "directora admirável" do museu e a "uma equipa que trabalha com dedicação e sensibilidade e com imaginação na ponta dos dedos", para deixar clara a sua mágoa com a decisão do executivo liderado por Pedro Passos Coelho.

A Fundação Paula Rego gere o Museu Casa das Histórias em Cascais, onde se reúnem mais de 700 obras da pintora e do seu marido, Victor Willing, que morreu em 1988: mais de 530 gravuras e desenhos da pintora, por ela doados, e cerca de 200 estudos preparatórios e esboços da artista, bem como 15 óleos de Willing e 52 pinturas de Rego, algumas delas emblemáticas, cedidos a título de empréstimo. De acordo com o estudo do Governo, a Fundação Paula Rego recebeu um apoio público de 1,2 milhões de euros entre os anos de 2008 e 2010. Esta instituição é uma das 21 que estão na dependência de municípios que o Governo propõe extinguir, mas o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, já tinha anunciado que pretende mantê-la em funcionamento, bem como a Fundação D. Luís I, também detida por aquele município.

Críticas sobem de tom

As críticas ao fim das fundações continuam a subir de tom. Ontem, o conselho de administração da Fundação do Museu do Douro afirmou que a acabar com aquela entidade ficará mais cara ao Estado do que a sua manutenção. "Ao contrário de diminuir o esforço público, iria necessariamente aumentá-lo", assegura a presidente da administração, Elisa Babo, citada pela agência Lusa. A responsável justifica que a extinção do organismo "afastaria os privados, as autarquias locais e outras entidades públicas da co-responsabilização nos custos", levando o Estado a ter de assumir a totalidade da responsabilidade financeira com o museu.

O Museu do Douro foi criado em 1997 e tem 23 funcionários com vínculo à fundação. O Estado assume o pagamento 23% dos 1,8 milhões de euros do seu orçamento. Os protestos estenderam-se aos autarcas da região, com o presidente da Comunidade Intermunicipal do Douro, o socialista Artur Cascarejo, a classificar de "injusta, inadequada e unilateral" a decisão.

A insatisfação atinge também autarcas sociais-democratas como o presidente da Câmara da Régua, Nuno Gonçalves, que fala num "golpe muito grande que foi aplicado ao Douro". "Não vejo forma de sermos nós a aguentar fundação. Não me parece que tenhamos condições para isso", concorda o presidente da Câmara de Vila Real, Manuel Martins.

Ontem, este autarca transmontano disse que não extinguirá a Fundação Manuel Correia Botelho, que gere o Conservatório Regional de Música, se não for obrigado a isso pelo Governo. "Se é recomendação eu não aceito", assegura.

O presidente da Câmara de Guimarães, o socialista António Magalhães, criticou igualmente a extinção da Fundação Cidade de Guimarães (FCG), que gere a Capital da Cultura. O autarca acusa o Govermo de "falta de senso" ao anunciar a decisão num momento em que ainda decorre o evento, não tendo em conta os compromissos estabelecidos com Bruxelas. Por isso, exige saber "o que disse o Governo à União Europeia" para justificar a decisão.

"É preciso estabilidade para que possamos cumprir com uma responsabilidade que nós e o Governo assumimos perante a Europa e que não se pode lançar às ortigas por dá cá aquela palha", sublinha o presidente de câmara. A reacção do autarca surge um dia depois de a administração da FCG ter classificado de "extemporânea" a decisão do Governo e de ter considerado "inútil" em termos de poupança, uma vez que, para o próximo ano, não está prevista dotação do Orçamento do Estado para esta instituição.

A fundação vimaranense foi constituída com o intuito de organizar a Capital Europeia da Cultura deste ano e tem a câmara e o Governo como entidades instituidoras. A autarquia de Guimarães tem dúvidas quanto à legalidade de o Governo extinguir unilateralmente um instituição que tem uma autarquia como parceira. A câmara e a própria FCG pediram, por isso, pareceres jurídicos sobre esta matéria. Com Lucinda Canelas

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