Rendimento dos portugueses caiu 100 euros por mês em dois anos

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O montante acumulado em facturas com NIF, de compras ou serviços, é convertido em cupões Enric Vives-Rubio

O rendimento disponível dos portugueses registou, no segundo trimestre deste ano, a maior queda de que há registo desde pelo menos 1999.

De acordo com os dados ontem publicados pelo Instituto Nacional de Estatística, o rendimento disponível ajustado das famílias (rendimento depois de impostos e de transferências sociais) caiu 4,9% no segundo trimestre de 2012 face a igual período do ano anterior.

Se se recuar mais um ano, até ao segundo trimestre de 2010, a perda acumulada no rendimento disponível vai até aos 7,9%. Na prática, enquanto no segundo trimestre de 2010, os portugueses ficaram nas suas mãos com 39.473 milhões de euros, em 2012, durante os mesmo período de tempo, receberam 36.358 milhões. São menos 3115 milhões de euros que, divididos pelos três meses e pelos cerca de 10 milhões de portugueses, dá uma quebra no rendimento de aproximadamente 100 euros por pessoa (incluindo população activa e inactiva).

A queda do rendimento disponível não se verificou apenas agora. Há já seis trimestres consecutivos que se assiste a uma variação homóloga negativa neste indicador. No entanto, houve vários factores a contribuir para esta quebra tão acentuada durante o segundo trimestre deste ano.

Em primeiro lugar, a queda de 8,9% nas remunerações. Foi neste trimestre que uma grande parte dos funcionários públicos perderam o seu subsídio de férias, o que influencia de forma decisiva este resultado. Esta é uma tendência que se deverá, contudo, voltar a verificar nos próximos trimestres, já que os pensionistas costumavam receber o 13º mês em Julho (no terceiro trimestre) e tanto funcionários públicos como pensionistas vão deixar de ter um vencimento extra no Natal durante o quarto trimestre.

A afectar as remunerações esteve ainda o forte aumento do desemprego do último ano, que surpreendeu mesmo o Governo. Outro efeito negativo sobre o rendimento disponível veio dos impostos sobre o rendimento e o património, que foram 28,4% (ou 345 milhões de euros) mais elevados do que no ano passado.

Em compensação, o saldo entre as prestações e as contribuições sociais melhorou significativamente. Neste caso, o aumento do número de pessoas a receber o subsídio de desemprego compensa parcialmente as perdas de rendimento verificadas ao nível das remunerações. No entanto, no cálculo das transferências sociais em espécie diminuiu, o que acabou por contribuir negativamente para a evolução do rendimento.

Os rendimentos de propriedade registaram também uma evolução positiva, com um crescimento de 12,2% em termos homólogos.

No total, esta quebra de rendimentos das famílias forçou, como é natural, a uma diminuição acentuada do consumo. No segundo trimestre, face ao mesmo período do ano anterior, essa descida foi de 3,9%.

Estes dados foram publicados na apresentação pelo INE das Contas nacionais trimestrais por sector institucional. No ano terminado no segundo trimestre, a queda do rendimento disponível é de 3,4%, ao passo que a descida do consumo foi ainda maior, o que significa, neste caso, um aumento da taxa de poupança.

No total da economia, as necessidades de financiamento do país baixaram para 2% do PIB, quando estavam em 4,2% no final do primeiro trimestre. Tanto as famílias, como as empresas financeiras e não financeiras e mesmo o Estado contribuíram para este resultado. Depois de anos seguidos de défices elevados, as contas do país face ao estrangeiro aproximam-se do equilíbrio.
Notícia actualizada às 21h51. Colocado texto da edição em papel na íntegra

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