Sónia, precária há mais de dez anos, pede a demissão de Relvas (e companhia)

Petição pública, assinada por mais de 5200 pessoas, que apela à demissão do ministro Miguel Relvas, foi entregue segunda-feira na Assembleia da República pelas mãos de Sónia Sousa Pereira

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Sónia Sousa Pereira é jurista e tem 37 anos DR

Chama-se Sónia Sousa Pereira, é jurista, tem 37 anos, trabalha a recibos verdes há mais de dez (nomeadamente para o Estado) e saltou para os ecrãs de televisão dos portugueses na segunda-feira, quando entregou na Assembleia da República a petição pública, assinada por 5232 pessoas, que pede a demissão do ministro Miguel Relvas.

A “licenciatura ultra-rápida”, o alegado envolvimento no “caso das secretas” e as pressões junto do PÚBLICO são razões mais que suficientes para o grupo de signatários apelarem à demissão do ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares. Mas Sónia vai mais longe — “a última consequência desta petição pode ser uma moção de censura e daí à queda do Governo”.

Este não é o apelo do documento, atenção. “Eu é que fiz uma elaboração jurídica que só a mim vincula”, diz a jurista, para quem é tempo de, mais do que censurar “qualquer erro de governação”, reclamar “ética e dignidade”, respeitando o comportamento “exemplar” dos portugueses. Na verdade, acrescenta, a “iniciativa da demissão já deveria ter decorrido por parte do próprio”. “O que me choca mais é a chacota, até internacional, de que este ministro é alvo. Não há condições para se manter.”

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“O país precisa de assumir mais responsabilidade e as pessoas de não terem medo de dar a cara, diz Sónia Miguel Manso

Sai à rua todas as segundas

Sónia aderiu à petição, elaborada por Ivo Pêgo, na sequência dos casos, referidos acima, que vieram a público. “Como cidadã”, juntou-se à primeira manifestação, em Julho, que reclamava a demissão de Relvas. Todas as segundas-feiras tem estado lá, à frente da Assembleia da República, com um cartaz amarelo que “é sucesso garantido em qualquer manifestação”. “Vou guardá-lo para sempre”, graceja.

Se no primeiro protesto estavam entre 500 a 800 pessoas, nos mais recentes reúnem-se “sempre as mesmos 20”. “Ainda temos a cultura de manifestante de Facebook”, brinca, ainda que encare estas acções como uma “experiência sociológica”. “Somos muito poucos para uma causa que é da simpatia de grande parte dos portugueses. Vê-se pelas manifestações de apoio e força, pelas buzinadelas dos carros que passam, pelos sorrisos.”

No sábado, 15 de Setembro, voltou a empunhar o seu cartaz. Afinal, a herança de “contestatária” já vem da faculdade. À saída de casa, a filha de dez anos perguntou-lhe: “Não podes ter chatices no trabalho por causa da manifestação?” “Aquilo assustou-me”, confessa. “Triste país, bem mais triste daquele em que estamos, quando isso acontecer.”

Sente “muito medo” pelos jovens portugueses e pelos seus filhos. “Eu própria sou um bom exemplo como precária. Já sou fruto desta geração. Já não existem trabalhos para a vida, já não existe estabilidade e, pior do que isso, estamos com ausência de emprego.” A juntar-se a isto, aquele momento “assustador e constrangedor” de incentivo à emigração pelo primeiro-ministro. Ainda assim, diz ter uma “esperança imensa nas novas gerações”. “Estão educadas para respeitarem a Constituição, coisa que os governantes parece que se esquecem.” É verdade que há mudanças e sacríficos a fazer, mas as pessoas estão “inconformadas”. “O país precisa de assumir mais responsabilidade e as pessoas de não terem medo de dar a cara.”

Artigo alterado às 18h15.

Foi corrigido o número de assinaturas na petição.

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