Na capa de "Illmatic", o seu primeiro e mais emblemático disco, Nas aparecia ainda menino, comprédios de habitação social atrás e um olhar desafiante no rosto; dezoito anos depois ele surge na capa de "Life Is Good", o seu décimo disco, sentado, de fato branco vestido, num sofá de couro negro, com um vestido verde (aquele que a ex-mulher Kelis usou no casamento) sobre a perna esquerda.
A pinta de playa reflexivo contrasta com a cara de “Vou ter um milhão de oportunidades” que o puto da capa de "Illmatic" parecia ostentar - e Nas teve-as todas, aproveitou-as todas, do sucesso crítico ao dinheiro passando pelas mulheres e a todas deitou fora, disco após disco, semi-desiludindo uma parte dos seus fãs com aquilo que foi em tempos descrito como uma escrita paternalista. Pois bem: parece que os maus tempos que Nas viveu recentemente lhe fizeram bem - depois do altamente badalado divórcio de Kelis, depois do IRS lhe cair em cima, depois da filha publicar fotos embaraçosas na net, encheu-se de brios e escreveu aquele que é o seu melhor e mais auto-biográfico disco desde "Illmatic". "Life Is Good" começa admiravelmente: "No introduction" vive de um órgão em crescendo, um piano angustiado à Tin Pan Alley, percussão intensa e grande, grande rapanço. Esta grandiosidade surge, redobrada, em "A Queens story" (repleta de cordas e metais) e nas estupendas "Accident Murderers" e "World''s an adiction". Entretanto Nas flirta com graves de piano e guitarras wah wah saídas de uma série B em "Loco-motive" (pesadíssima e um clássico imediato), fala da filha mais velha recorrendo a um fundo musical que não está distante do cinema erótico dos anos 1970 ("Daughters") e revisita sons old-school, como o scractch ("Reach out"). Naquele que é o seu disco mais variado em toda a sua discografia. Nas ainda tem tempo de brincar com a pop dos anos 1980 ("You wouldn''t understand") ou de recorrer a influências latinas ("Summer of smash", "The Don"), acabando a escrever uma carta a Kelis ("Bye Baby"). No seu melhor, Nas é imbatível; há dezoito anos que não estava no seu melhor.
