The Portuguese Kids: de Massachusetts com humor

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Os The Portuguese Kids no vídeo "I’m Portuguese and I know it” DR

São cinco, têm trinta e poucos anos e os apelidos são portugueses. Fazem humor do outro lado do Atlântico mas piscam o olho ao Rectângulo. Dão pelo nome de The Portuguese Kids e é possível que os conheça do vídeo musical “I’m Portuguese and I know it”, uma paródia ao êxito musical dos LMFAO.

Trabalham muito, são forretas, gostam de chouriço e linguiça, obrigam os filhos a comer os petiscos importados e gritam com eles se acham que estão a ser preguiçosos. Derrick DeMelo descreve desta forma ao PÚBLICO – a traço grosso – a comunidade portuguesa radicada nos EUA. Daqui até à comédia foi um passo.

Pegar nas raízes portuguesas e fazer humor a partir delas não foi, porém, algo que estes cinco jovens tivessem planeado. Simplesmente saiu-lhes. Naturalmente. Antes de serem um colectivo de humoristas, Derrick DeMelo, Jay Casimiro, Al Sardinha, Brian Martins e Daniel Martins são amigos e filhos de portugueses. Nasceram e cresceram em Fall River, Massachusetts, e foi a partir daqui que se lançaram à conquista dos States e do Canadá, atirando às comunidades luso-americanas algumas pérolas de auto-análise.

“As pessoas da nossa geração adoram rir-se da própria cultura, mas também gostam muito de recordar as coisas do passado e quando nós estamos em palco fazemos isso mesmo”, explica Derrick.

Por exemplo, no vídeo intitulado “Sh*t Portuguese People Say”, disponível aqui, os Portuguese Kids pegam em muitos dos estereótipos da portugalidade e servem-nos em curtas sequências com direito a sotaque macarrónico. Exemplos: “Where’s the piri-piri?” ou “Hey, queres uma beer?”. Tudo isto dito com a típica inflexão de voz açoriana, arquipélago português de onde são oriundas a maioria das famílias destes comediantes.

“Quando vimos a reacção à comédia portuguesa, começámos a perceber que as pessoas queriam mais disso. Toda a gente na América adora humor cultural e percebemos que a cultura portuguesa sentia falta disso. Decidimos colmatar essa falha”, explica Derrick DeMelo.

Humor de conserva

Que a segunda geração de portugueses se consiga rir dos seus pais e avós parece natural. Mas não trará este tipo de humor alguns amargos de boca às gerações anteriores? Derrick DeMelo garante que não: “As nossas famílias não têm feito outra coisa que não seja apoiar-nos. Somos uma fonte de orgulho para os nossos familiares. Eles sabem que usamos as personalidades deles para criar coisas em palco, mas eles sabem que é exagerado e apreciam o humor porque se conseguem rir deles próprios”.

Apesar de o humor feito pelos The Portuguese Kids estar mais virado para as comunidades luso-americanas, Derrick garante que mesmo os americanos o apreciam porque toda a gente conhece um português e consegue “sair dos espectáculos a rir”. A única coisa que, por vezes, precisam de regular é a quantidade de frases portuguesas enxertadas no meio dos sketches. “Em alguns espectáculos percebemos que não podemos usar muitas palavras em Português, mas se percebemos que a plateia é maioritariamente portuguesa ou açoriana, então usamos frases inteiras”.

O humor que os Portuguese Kids usam nos seus espectáculos é, ao contrário da cultura que beberam toda a vida, estanque a influências externas. Derrick diz que não conhece nada do humor que actualmente se faz em Portugal. E nem quer. As piadas do colectivo não precisam de contemporaneidade. Apenas de ir beber aos hábitos imutáveis das gerações que os precedem.

“Nós literalmente não procuramos humor fora das nossas casas e dos nossos ambientes. Quando os Portugueses emigraram para os EUA, eles levaram consigo um certo estilo de vida que já nem sequer existe em Portugal nem nos Açores. Parece que ficaram congelados no tempo. Apesar de Portugal ter evoluído, as pessoas que emigraram nas décadas de 1950, 1960 e 1970 parece que não acompanharam essa evolução”, analisa Derrick.

Orgulho português

O fenómeno do humor feito por filhos de emigrantes não é novo. Em França, por exemplo, a dupla mais famosa deste género de comédia que faz troça dos estereótipos da emigração lusa chama-se Ro et Cut e é protagonizado por um jovem chamado Rodolfo Ferreira Ribeiro - um luso-descendente nascido em Paris cujos pais emigraram para França na década de 1970.

Quando goza com as suas origens, Rodolfo incarna a personagem de António, o típico emigrante que arrota, diz palavrões, fala em “frantuguês” e conduz todos os Agostos rumo à sua “maison au Portugal”.

Estes jovens que fazem humor a partir das heranças lusas e que se espalham pelos dois lados do Atlântico têm em comum a adoração por Portugal, país que visitam mais ou menos frequentemente, consoante a distância e os recursos. A relação dos Portuguese Kids com a pátria dos pais e dos avós parece ser forte o suficiente para não depender de patriotismos impingidos. “Uma das coisas que apreciamos nos Açores é a beleza natural e o estilo de vida, que é muito mais relaxado que na América. Mas, mais importante que isso, nós apreciamos a pátria dos nossos pais. Somos educados desde pequenos a ter ‘orgulho português’, mas quando vamos lá sentimos esse orgulho bem enraizado no nosso coração”, explica Derrick.

“Todas estas gerações anteriores cresceram nos Açores e nós somos a primeira a nascer noutro país. De certa forma nós temos muito mais oportunidades, mas por outro lado não tivemos a sorte de viver uma vida onde menos é mais”, acrescenta.

Apesar de os Portuguese Kids se dedicarem a sério a este projecto humorístico, todos eles - à excepção de Derrick - exercem uma outra profissão em full-time. “Estamos todos realmente muito ocupados, mas de uma forma ou de outra conseguimos arranjar tempo para quatro a oito espectáculos por mês, viajando por todos os estados americanos e Canadá para fazer as pessoas rir”, diz Derreck.

“Quando começámos não conseguíamos sequer juntar 100 pessoas nos nossos shows e agora estamos a esgotar salas de espectáculo que levam 1200 pessoas”, acrescenta o luso-descendente. “Esperamos um dia vir a conseguir fazer isto em full time”.

Todos os membros do grupo têm emprego a tempo inteiro. Derrick DeMelo trabalha num escritório, Jay Casimiro numa empresa de computadores, Al Sardinha é professor, Brian Martins enfermeiro e Daniel Martins tem uma tem uma loja de som.

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