Portugal pode ser "um país residual nos Jogos do Rio"

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“Caminharemos para a desgraça de termos uma participação irrelevante no Rio”, diz o presidente do COP Foto: Miguel Madeira

O presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP) defendeu nesta quinta-feira uma “mudança de paradigma” no desporto português, para evitar resultados “residuais” nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016.

“É necessário mudar de paradigma. É indispensável mudar de paradigma, sob pena de, daqui a quatro anos, Portugal ser um país residual nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro”, afirmou Vicente Moura, em Weymouth.

O presidente do COP disse também que a responsabilidade pela definição da política desportiva do país “é do Governo”, que vai ter que decidir “o que quer fazer”. “Podemos restringir a prática desportiva, podemos restringir modalidades, mas temos de tomar opções, porque, se não tomarmos essas opções, caminharemos para a desgraça de termos uma participação irrelevante no Rio de Janeiro. E isso não pode acontecer porque a opinião pública portuguesa não aceita”, considerou.

O líder do COP referiu que em Portugal não pode haver “apenas 400 e pouco mil atletas federados”, nem levar aos Jogos Olímpicos apenas 13 modalidades. “Daqui a quatro anos, se nada mudar, vamos ter menos modalidades e menos atletas no Rio de Janeiro, porque os níveis de qualificação vão ser muito mais exigentes”, alertou.

Para Vicente Moura, “é indispensável aumentar o número de praticantes, o sistema tem de mudar”, salientando que “o desporto escolar é indispensável”. Considerou que “o desporto representa os melhores índices do país” e elogiou resultados como o alcançado por Luciana Diniz (hipismo), no salto de obstáculos, e em especial a medalha de prata conseguida na canoagem por Emanuel Silva e Fernando Pimenta: “Uma medalha importante para o país, mas também para a canoagem.”

“Não chega”

Vicente Moura também garantiu que o COP “fez tudo o que estava ao seu alcance” na preparação da equipa para Londres 2012, “tal como o actual Governo e o anterior, para mais numa situação em que o país está com dificuldades económicas”. “Fez-se um grande sacrifício, mas isso chega? Se chega, estaremos satisfeitos até ao Rio. Eu acho que não chega”, frisou, dizendo ainda: “O Governo, o Comité Olímpico, as federações todas, temos de nos sentar, temos de falar, encontrar novos caminhos e pôr a população portuguesa a fazer desporto.”

Apesar do discurso, Vicente Moura não quis falar da sua recandidatura à presidência do COP, que apenas abordará já em Lisboa, mas assumiu a “experiência acumulada em 11 Jogos Olímpicos”, sublinhando: “O importante é termos um rumo sobre o que queremos dentro de dez anos.”

“Se queremos 10 ou 11 medalhas, rápidas, então temos de mudar de caminho. Há muitos atletas africanos que querem vir para a Europa e as medalhas aparecem”, disse, dando ainda o exemplo da delegação espanhola: “Trinta por cento dos atletas da Espanha não nasceram no território, são estrangeiros.”

O responsável do COP defendeu, ao invés, que em Portugal se coloquem “os filhos, os netos, os jovens a praticar desporto” e disse que as medalhas “aparecerão naturalmente, fruto do trabalho que for feito ao longo de uma década”.

“Não fui surpreendido”

Em jeito de balanço à forma como correram as coisas em Londres, Vicente Moura não escondeu a desilusão com o resultado da judoca Telma Monteiro, reiterando que, “se o judo tivesse tido melhores resultados, não se teria instalado este clima no país” em relação aos Jogos.

“Não fui surpreendido pelos resultados. A dada altura disse que esta era a equipa mais bem preparada de sempre. Alguém entendeu que isso queria dizer medalhas e não quer dizer medalhas. Temos a obrigação de preparar os atletas que temos da melhor maneira possível”, disse.

Moura preferiu realçar o “bom trabalho realizado por algumas modalidades”, “com um nível qualitativo elevado”, como foi o caso do ténis de mesa, do tiro, enquanto outras, como a natação, mostraram “o seu nível actual”. “Nunca falhámos com valores financeiros às federações, aos atletas e aos técnicos. Quando houve o colapso da federação de vela, foi o Comité Olímpico que preencheu esse colapso. A vela está aqui em todas as classes porque eu próprio assumi os pagamentos e todos os problemas administrativos. Ainda agora tenho problemas administrativos para resolver”, assumiu.

A forma como a comitiva portuguesa se comportou em Londres 2012 não passou em claro: “Aqui não houve nenhum tipo de problema. Tenho de agradecer a toda a gente, ao chefe de missão e a todos os elementos da comitiva. Houve problemas, mas foram problemas menores.”

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