Cavalos olímpicos são atletas de alta competição com tratamento especial

Lennox, o cavalo de Luciana Diniz, gosta de passear na floresta
Fotogaleria
Lennox, o cavalo de Luciana Diniz, gosta de passear na floresta Foto: Mike Hutchings/Reuters
Rubi, o cavalo de Gonçalo Carvalho, gosta de cenouras e bombons
Fotogaleria
Rubi, o cavalo de Gonçalo Carvalho, gosta de cenouras e bombons Foto: Mike Hutchings/Reuters

A desqualificação de Victor, com uma inflamação na mão esquerda, causou polémica, mereceu um protesto do Canadá não atendido pelo júri e ainda uma conferência de imprensa, ingredientes reveladores do estatuto do cavalo, único animal olímpico além do homem.

Aos olhos do público são meros animais, mas os únicos participantes não-humanos nos Jogos Olímpicos Londres 2012 são considerados atletas de alta competição, com direito a massagens, suplementos alimentares e outras atenções especiais.

É o caso de Rubi, o puro-sangue Lusitano que acompanha o português Gonçalo Carvalho e que vai estar na segunda ronda da competição de Ensino (Dressage) na terça-feira, nos Jogos Olímpicos de Londres2012.

Porque o animal é avesso a viagens, Carvalho e a sua equipa viajaram de Lisboa no mesmo camião, durante dois dias, com 18 horas de condução em cada, para encurtar o tempo de deslocação até à capital britânica.

"É muito cansativo, mas, se não fosse assim...", deixa escapar o português de 30 anos, num tom semelhante ao de quem fala da cara-metade de um "casamento" de nove anos.

É que a prova de “dressage” depende absolutamente da descontração do cavalo, que deve efectuar uma série de exercícios seguindo as "ajudas" do cavaleiro, pelo que o relacionamento é essencial.

Chegaram à capital britânica duas semanas antes, "muito importante para o cavalo se habituar", e, desde então, Rubi, de 14 anos, tem sido apaparicado.

"Temos todo o tipo de cuidados com ele, temos um massagista, temos um osteopata, temos comida especial, temos produtos para os músculos, temos tudo o que possa existir", explicou Carvalho.

Também Lennox, da raça alemã Oldenburg, que acompanha a portuguesa Luciana Diniz no concurso de saltos de obstáculos, tem todas estas atenções, e até mais. Além das massagens, do acompanhamento pelo osteopata e dos suplementos alimentares, tem sessões de acupuntura.

"É um atleta de ‘top’, como nós", vincou a amazona de 41 anos, que escolheu este cavalo, porque Winningmood, o seu habitual companheiro de competição, não estava em condições.

Apesar de estarem juntos há apenas três anos, Luciana diz que Lennox "é muito especial".

"Eu considero-me muito amiga dele e confio nele, e ele confia em mim. Temos feito excelentes resultados, acho que somos uma boa equipa", conta.

Ao contrário de Rubi, o puro-sangue alemão "adora viajar, adora estar no camião", pelo que o par fez a viagem de Bona, na Alemanha, separado: ele no camião, ela de avião.

Lennox, cuja propriedade é partilhada com o magnata francês Édouard de Rothschild, não estava sozinho, garante Luciana, tinha a tratadora finlandesa, uma espécie de "au pair".

"Os dois adoram-se", conta, num sotaque brasileiro de quem nasceu em São Paulo, embora tenha nacionalidade portuguesa, fruto da ascendência transmontana.

O estatuto do cavalo enquanto atleta olímpico é reconhecido pelo sistema informático da organização, que inclui dados como o número do passaporte e idade, mas não chega aos pormenores mais íntimos que apenas os respectivos cavaleiros conhecem.

Por exemplo, Lennox, de 11 anos, gosta de passear na floresta alemã próxima de onde vive com Luciana, enquanto Rubi, de 14 anos, é um guloso que gosta de ser mimado no final de uma boa prova com cenouras e, revela Gonçalo, com "muitos bombons".

Sugerir correcção
Comentar