Carl Lewis: O homem que desafiou o tempo e a gravidade

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Lewis não perdeu uma prova de salto em comprimento em dez anos Foto: Tom Szlukovenyi/Reuters

Nos Jogos de Atlanta 1996, encostado numa lateral do estádio, Carl Lewis estava pronto para iniciar o seu concurso de saltos: um atleta velho, de 35 anos, no declive das suas faculdades físicas, sem nenhuma vitória desde 1992.

Um homem que aos poucos tinha sido retirado das primeiras páginas, dos holofotes, do papel central que outrora lhe pertencera. Um homem que se refugiou no salto em comprimento, a sua primeira especialidade, como se estivesse numa ilha isolada. Um actor arredado do papel principal. Parecia impossível. Quando tudo terminou, quando Michael Johnson venceu o ouro nos 400 metros, depois do etíope Grebresselasie, da francesa Perec e do americano Allen terem brilhado intensamente nas suas provas, um homem subiria ao lugar mais alto do pódio para reclamar o estatuto de um dos melhores atletas de todos os tempos: Carl Lewis.

Com um voo de 8,50 metros na final do salto em comprimento, conquistou a medalha de ouro, a nona da sua carreira em Jogos Olímpicos - competiu em quatro - e a quarta consecutiva na prova de salto. Acabava de entrar na história.

Jesse Owens foi mágico nos anos 1935 e 1936. Em Ann Arbour, nas qualificações, bateu cinco recordes do mundo em dois dias e, um ano depois, ganhou quatro medalhas de ouro nos Jogos de Berlim e a admiração de Lewis. Em criança, com 10 anos, tirou uma fotografia ao lado do seu ídolo e dele recebeu um conselho, para que se divertisse. Anos mais tarde, foi o que fez. Não perdeu numa prova de salto em comprimento durante dez anos, com 65 vitórias consecutivas em várias competições. Venceu quatro medalhas de ouro nos Jogos de Los Angeles 1984, igualando as marcas do seu herói de 1936, Jesse Owens. Estabeleceu também o melhor registo mundial nos 100 metros.

"Tentam dar-lhe um relógio de ouro e ele rouba a medalha de ouro. Pedem-lhe a tocha e ele pega fogo aos Jogos Olímpicos", descreveu-o Rick Reilly na Sports Illustrated.

Carl Lewis ganhou duas vezes os Mundiais (1983 e 1991), ou três se contarmos com a desqualificação de Ben Johnson, em Roma 1987. Além de rápido, era versátil - ganhou quatro ouros no salto entre 1984 e 1996 - e aparecia sempre com um estilo impecável, nos antípodas do modelo dos velocistas. Estava-lhe nos genes. Nascido em Birmingham, no Alabama, a 1 de Julho de 1961, era filho de Evelyn, que foi também uma atleta olímpica (participou nos Jogos de Helsínquia 1952). A sua irmã Carol fez parte da equipa americana em Los Angeles (1984). Nos anos 1980, Lewis já era o número 1 mundial nos 100 metros e no salto em comprimento. Participava nos sprints (100m, 200m, 4x100m) e no salto em comprimento. E deixou o seu nome gravado em todos.

Os Jogos de LA foram os primeiros - também se tinha qualificado para os Jogos de Moscovo quatro anos antes, mas não foi por causa do boicote - e o palco ideal para Lewis. Venceu os 100m (9,99s) e os 200m (19,80s, recorde olímpico), salto em comprimento (8,54m) e a estafeta 4x100m com recorde mundial 37,83s. O duelo com Ben Johnson, em Seul 1988, nos 100 metros, marcaria também a sua carreira, depois de ficar com a medalha do canadiano após a sua desclassificação por doping.

Em Barcelona 1992, venceu a estafeta e o comprimento (8,67m). À beira do adeus, e quando toda a gente se preparava para a sua despedida, Atlanta viu-o a um canto em 1996. O seu salto para o ouro, fê-lo fechar a porta da glória em grande.

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