Falta de seguranças nos Jogos Olímpicos não preocupa responsáveis britânicos

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Por causa dos Jogos Olímpicos, o aeroporto de Heathrow teve ontem um recorde de passageiros Foto: Andrew Cowie/AFP

Já falta pouco mais de uma semana para o início dos Jogos Olímpicos de Londres e a capital britânica começou ontem a receber os atletas e comitivas que vão estar em competição. O dia ficou marcado pela confusão no trânsito (um autocarro que transportava atletas andou perdido durante quatro horas), um número recorde de passageiros no aeroporto de Heathrow e um escândalo relacionado com a falta de efectivos da empresa privada que deveria garantir a segurança do evento.

O presidente do Comité Olímpico Internacional, Jacques Rogge, desvalorizou o incidente, mas a falha da G4S – que não conseguiu disponibilizar os 10.400 seguranças que estavam no contrato – obrigou os responsáveis a recorrer às forças policiais para completar o contingente dedicado aos Jogos. Em Manchester, num hotel onde estão atletas olímpicos, havia apenas 17 seguranças da G4S, quando eram esperados 56.

"Claro que a segurança é fulcral e importante para todos. Mas foi demonstrada flexibilidade em relação ao problema que surgiu", apontou Rogge. Opinião menos positiva tinha o chefe da polícia de West Midlands: "É um caos absoluto. Os cidadãos não deviam ficar sem polícia por causa dos Jogos Olímpicos. As comunidades locais estão a ser prejudicadas porque uma empresa privada falhou o cumprimento de um contrato", sublinhou Ian Edwards.

O director executivo da G4S, Nick Buckles, será hoje ouvido no parlamento. Hugh Robertson, ministro com a pasta dos Jogos Olímpicos, reiterou a confiança na empresa: "A G4S continua a ser parte integrante do plano de segurança. A última coisa que queremos é uma baixa na liderança", disse, quando questionado sobre uma eventual demissão de Buckles. O mesmo responsável negou que o incidente configure uma "vergonha nacional". "Há uma escala que vai de embaraço ligeiro a desastre completo, e isto não é significativamente embaraçoso", disse.

Fora estas questões, as coisas correram com a suavidade possível. Em Heathrow, principal porta de entrada em Londres, viveu-se um dia agitado: o aeroporto esperava registar um recorde de passageiros, com quase 237 mil (a média são 190 mil). "Estava à espera de passar três horas na fila, como me tinham dito. Mas nem demorei cinco minutos. Foi impecável - bom trabalho, Londres", disse o atleta norte-americano John Retsios. Mas houve quem tivesse uma experiência diferente: Kerron Clement, vice-campeão olímpico nos 400m barreiras, denunciou na rede social Twitter que o autocarro que transportou os atletas até à aldeia olímpica andou perdido durante quatro horas. "Não é uma boa primeira impressão de Londres. Os atletas têm sono, fome e precisam de urinar. Podemos ir, por favor, para a aldeia olímpica?", escreveu o norte-americano.

O dia ficou também marcado pela continuação da troca de palavras EUA-China relativa aos uniformes que os atletas norte-americanos utilizarão durante os Jogos. O vestuário foi fabricado na China, o que motivou reacções exaltadas nos EUA, onde a taxa de desemprego está acima dos oito por cento. Seis senadores democratas disseram mesmo estar a planear introduzir legislação que obrigue à utilização de uniformes produzidos nos EUA.

A reacção chinesa não se fez esperar: "Trata-se de uma atitude paroquial e nacionalista, uma blasfémia em relação ao espírito olímpico e uma demonstração de ignorância", podia ler-se num comentário da agência oficial chinesa Xinhua, citado pelas agências internacionais. "Este tema despertou as pessoas, porque as palavras made in China tocam no assunto mais sensível das eleições presidenciais dos EUA - outsourcing", acrescentava o mesmo texto.

Comitiva portuguesa começou a chegar

Mário Santos, chefe de missão de Portugal aos Jogos Olímpicos, liderou o grupo que ontem aterrou em Londres. Foram os primeiros atletas nacionais a chegar à capital britânica, seguindo-se mais durante os próximos dias. "Houve alguma confusão no aeroporto e problemas com os transportes", admitiu ao PÚBLICO.

Ainda antes da partida, em declarações à agência Lusa, o mesmo responsável disse esperar que o "ruído externo" não prejudique a concentração e desempenho dos atletas, à semelhança de Pequim 2008: "Não vale a pena andarmos a facturar medalhas antes do seu tempo ou fazermos conjecturas. Muito honestamente, a única previsão que me interessa é a meteorológica nas modalidades ao ar livre, nada mais". "Estou certo de que todos os atletas e o país estarão a apoiá-los e, se não ficarmos mais bem classificados, será única e exclusivamente pelo facto de os outros serem melhores do que nós e não por termos andado a dar tiros nos pés", concluiu.

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