Um Leonardo da Vinci em estado crítico

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O auto-retrato de Leonardo não deverá voltar a ser exposto DR/Biblioteca Real de Turim

É certamente uma das obras mais conhecidas do grande pintor da renascença italiana e, segundo a agência noticiosa Reuters, está com gravíssimos problemas de conservação. O auto-retrato, concluído no início do século XVI, quando Leonardo da Vinci andaria já na casa dos 60, acaba de ser cuidadosamente examinado por um comité de peritos, que veio confirmar aquilo que a maioria já receava: o desenho do mestre está muito fragilizado, continua a degradar-se de dia para dia e qualquer intervenção de restauro será, no mínimo, muito arriscada.

“Temos de pensar muito bem antes de fazer o que quer que seja a esta cara tão familiar”, disse numa conferência em Roma a conservadora de desenho e gravura do Castelo de Windsor, Jane Roberts.

Os historiadores de arte e técnicos de restauro que examinaram o desenho de 33,5X21,6 centímetros defendem até que a obra nunca mais venha a ser exposta sem grandes restrições de acesso (poderá apenas ser vista por poucas pessoas e por períodos muito curtos). “É muito assustador lidar com uma obra de arte desta magnitude, única”, acrescentou também à Reuters a directora do instituto de conservação e restauro de arquivos e livros italiano, Maria Cristina Misiti.

O desenho de Leonardo, feito a giz vermelho sobre papel, está a ficar coberto de pontos e manchas, que podem dever-se à oxidação do pigmento que o pintor usou no auto-retrato ou a fungos no próprio papel que lhe serve de suporte. O seu estado de conservação terá sido muito afectado quando foi emoldurado e exposto a partir de 1929, recebendo luz directa. A obra, que pertence à Biblioteca Real de Turim há quase 100 anos, é hoje guardada num cofre em absoluta escuridão, com temperatura e humidade controladas.

Os especialistas estão ainda a ponderar uma intervenção de restauro de emergência, uma decisão difícil de tomar, reconhece Misiti: “Vamos continuar a estudá-lo e a diagnosticá-lo. Todos concordamos neste ponto.” Os cientistas garantem que este Leonardo precisa de “longos períodos de descanso”.

O último restauro de uma obra do pintor italiano – A Virgem e o Menino com Santa Ana, uma pintura do Museu do Louvre – foi alvo de uma intensa polémica, algo habitual sempre que os conservadores mexem numa obra-prima com 500 anos, alterando para sempre o seu aspecto e a memória que dela guardamos.

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