Nora Ephron, argumentista de “Um Amor Inevitável”, morre aos 71 anos

Nora Ephron, terceira a contar da esquerda, em 2009
Fotogaleria
Nora Ephron, terceira a contar da esquerda, em 2009 Foto: Mychele Danyau/AFP
Ephron com Meryl Streep
Fotogaleria
Ephron com Meryl Streep Reuters
Ao lado de Steven Spielberg
Fotogaleria
Ao lado de Steven Spielberg Reuters
Nora Ephron tinha 71 anos
Fotogaleria
Nora Ephron tinha 71 anos Reuters

Nora Ephron, nomeada para os Óscares por ter escrito e realizado comédias românticas como “Um Amor Inevitável” (When Harry Met Sally) e “Sintonia de Amor” (Sleepless in Seattle) morreu nesta terça-feira em Nova Iorque, com uma leucemia.

Ephron, de 71 anos, apelidada como a rainha da comédia romântica norte-americana, morreu de leucemia mielóide aguda no Centro Médico Presbiteriano/Weill Cornell, rodeada pela família.

O mayor de Nova Iorque, Michael Bloomberg, apelidou a morte da argumentista e escritora – autora de vários livros e ensaios – como uma perda “devastadora” para a comunidade artística e cultural da cidade.

O Sindicato de Realizadores da América reagiu à morte de Ephron dizendo que ela foi uma “inspiração para todas as realizadoras, quando ainda havia muito poucas” nesta indústria.

A actriz Carrie Fisher lembrou uma Ephron “inspiradora, intimidante e perspicaz”. E Tom Hanks, que por várias vezes trabalhou com a argumentista, escreveu que "ela nos levantou a todos com uma sabedoria e uma sagacidade misturada com um amor por nós e pela vida". "Nora Ephron foi uma jornalista/artista que sabia o que era importante saber: como as coisas realmente funcionavam, o que valia apena, quem era fascinante e porquê", acrescentou o actor.

Ephron apenas contou à família e aos amigos mais chegados o seu problema de saúde mas numa entrevista à Reuters em 2010 a argumentista e realizadora encorajou todos os amigos a gozarem a vida enquanto ainda têm tempo de o fazer. “Devíamos comer coisas deliciosas enquanto ainda as podemos comer, ir a lugares maravilhosos enquanto ainda podemos lá ir... E não devíamos ter noites em que dizemos para nós próprios - ‘O que é que eu estou aqui a fazer? Porque é que eu estou aqui? Estou aborrecida!’”.

Washington e Carl Bernstein

Ephron começou a carreira como jornalista, mas rapidamente passou para a indústria dos argumentos de cinema, deixando atrás de si dezenas de filmes que normalmente tinham como protagonistas figuras femininas poderosas, como recentemente foi o caso de “Julie & Julia” (2009), o seu último filme e que contou no elenco com Amy Adams e Meryl Streep.

Para além de argumentista, Ephron também produziu e realizou muitos dos seus filmes.

Foi nomeada para três Óscares pelos filmes “Um Amor Inevitável”, “Sintonia de Amor” e pelo drama “Reacção em Cadeia” (Silkwood), no qual Meryl Streep desempenha o papel de uma activista anti-nuclear.

O filme “Você Tem uma Mensagem” (You’ve Got Mail), protagonizado por Tom Hanks e Meg Ryan, foi igualmente um dos mais populares que a argumentista e realizadora escreveu e dirigiu.

Ephron também se dedicou ao teatro, tendo escrito a peça Imaginary Friends, de 2002, e Love, Loss and What I Wore, a par com a irmã Delia, de 2009.

Nascida a 19 de Maio de 1941 em Nova Iorque, Ephron - filha de dois argumentistas - cresceu, porém, em Beverly Hills. Antes de enveredar pelo jornalismo ainda fez um estágio na Casa Branca, em Washington, mas depressa passou para a escrita de ensaios humorísticos.

Começou a investir na indústria do entretenimento depois de se ter casado com o seu segundo marido - o famoso jornalista de investigação do “The Washington Post” Carl Bernstein, que ajudou a expor ao mundo o escândalo de Watergate, envolvendo então o Partido Republicano do então Presidente Richard Nixon.

Foi aliás Ephron que ajudou a reescrever uma versão do filme “Os Homens do Presidente” (All The President’s Men) sobre o escândalo político que levou ao pedido de demissão de Nixon, em 1974.

Apesar de o seu argumento não ter sido usado, esta tarefa abriu-lhe as portas de um trabalho de escrita de argumentos para televisão. A primeira grande oportunidade no cinema surgiu após o amargo divórcio de Bernstein, que esteve na origem do romance de 1983 “A Difícil Arte de Amar” (Heartburn), que ela, mais tarde, adaptou ao grande ecrã através do filme homónimo protagonizado por Jack Nicholson e Meryl Streep.

O filme foi um sucesso nos cinemas e abriu a Ephron as portas para os grandes êxitos do final da década de 1980 e 1990, como “Um Amor Inevitável” e “Sintonia de Amor”.

Gradualmente, Ephron começou a ser vista como uma das mais talentosas escritoras e realizadoras de comédias românticas de Hollywood. Apesar de os seus filmes terem arrecadado dezenas de milhões de dólares nos cinemas de todo o mundo, a realizadora e argumentista nunca recebeu nenhum Óscar.

Após 2000, Ephron tinha-se vindo a dedicar mais aos ensaios e escrevia igualmente para o site The Huffington Post.

Em 2008 a sua colecção de ensaios transposta para livro “I Feel Bad About My Neck: And Other Thoughts on Being a Woman” tornou-se um bestseller em Nova Iorque.

Antes de morrer, Ephron estava a trabalhar num filme biográfico sobre a cantora Peggy Lee que deveria ser interpretada pela actriz Reese Witherspoon, de acordo com o site IMDB.

Num e-mail enviado ao The New York Times, Meryl Streep, que protagonizou vários filmes de Ephron, lembrou a disponibilidade de Ephron. "Podíamos chamá-la para tudo. Médicos, restaurantes, receitas, discursos, ou apenas algumas piadas. Ela era uma especialista em todos os departamentos da vida", escreveu a actriz.

Ephron deixa para trás o seu terceiro marido de há mais de 20 anos, Nicholas Pileggi, e os dois filhos que teve com Bernstein.

Notícia actualizada às 10h
Sugerir correcção
Comentar