A dança macabra de Christian Boltanski chegou a Guimarães

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Dernière Seconde tem uma dimensão autobiográfica muito característica da obra de Christian Boltanski — a roupa é outra presença recorrente, evocação da voracidade da sociedade de consumo PLOWI

São apenas duas obras e, no entanto, nelas se guarda o essencial da obra do artista francês

São apenas duas obras e, no entanto, nelas se guarda o essencial da obra do artista francês Christian Boltanski (Paris, 1944), uma interrogação sobre o espaço, o lugar, a memória do presente e a memória do futuro. La Danse Macabre, que inaugurou na Fábrica ASA, em Guimarães, no âmbito da Guimarães Capital Europeia da Cultura, tem comissariado de João Fernandes, ainda director do Museu de Serralves, e é "um comentário à efemeridade de muitos dos espectáculos de celebração da cultura". Diz o comissário que o trabalho de Boltanski, que aqui se fará representar pelas peças La Danse Macabre (criada para o espaço da ASA) e Dernière Seconde (na imagem), convocando o tempo e a memória, é "contemporâneo de uma redefinição da História na segunda metade do século XX: a história contada do ponto de vista do monumento é substituída pela história contada pelo documento".

La Danse Macabre é "uma obra simples", explica Fernandes, com "uma estrutura que faz circular as roupas que as pessoas reconhecerão das suas lavandarias". Dernière Seconde contém uma dimensão biográfica, "que o artista aplicou sempre", "realidade e ficção [construindo] uma ideia de memória" que não sabemos se é verdadeira. Numa e noutra obra, elementos comuns do trabalho do artista, como a roupa e a mecanização do tempo, "convocam as nossas próprias memórias", projectando-as naquilo que Boltanski apresenta, "independentemente da sua veracidade".

Boltanski "retirou a maiúscula à palavra história", diz Fernandes, sugerindo que "somos todos dignos de um monumento". "Trazer as roupas de volta é trazer as histórias de volta e confrontar também a memória das pessoas", argumenta o comissário, fazendo referência ao modo como desde 1961, primeiro em fotografia, depois usando a própria roupa, Boltanski tem sugerindo leituras transversais que evocam a memória dos campos de concentração ou a ideia de consumo. "A sociedade de consumo estará a produzir roupa a mais, quando antes a roupa era usada até estar gasta". Dança macabra, essa das roupas que a toda a hora são destruídas. E o espectador no meio desse teatro, provando do veneno "do conhecimento que a peça convoca".

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