Fundação Saramago quer criar Dia do Desassossego

Foto
A Fundação Saramago está aberta ao público Pedro Cunha

A Casa dos Bicos – Fundação Saramago está aberta ao público. O Prémio Nobel da Literatura português morreu há quase dois anos. As lágrimas que se tinham de derramar, já foram derramadas.

Agora, o que Pilar del Río, “presidenta” da Fundação Saramago, e todos os que contribuíram para que a ideia que José Saramago tinha dela se concretizasse, querem é fazer é o que estava previsto: que a partir de agora as pessoas entrem no edifício quinhentista da Rua dos Bacalhoeiros, em Lisboa, e visitem o espaço. Não só para verem a exposição “José Saramago. A Semente e os Frutos”, comissariada por Fernando Gómez Aguilera, como para celebrarem a palavra e ouvirem debates e música.

Entre as iniciativas para o futuro há a ideia de criarem um Dia do Desassossego. “Lançamos a iniciativa de um Dia do Dessassosego que talvez a câmara assuma e se faça em Lisboa um Bloomsday universal e pessoano, que bom dia hoje, aniversário de Pessoa para dizê-lo”, avisou Pilar del Río no seu discurso num auditório sem lugar para tanta gente. Mário Soares, Maria Barroso e Manuela Eanes, o presidente da Câmara Municipal António Costa, o secretário de Estado da Cultura Francisco José Viegas, a deputada Gabriela Canavilhas, o político Jerónimo de Sousa, os poetas Vasco Graça Moura e Nuno Júdice, a escritora Nélida Piñón veio do Brasil representar na cerimónia a Academia Brasileira de Letras, o cineasta Miguel Gonçalves Mendes, os editores Zeferino Coelho e Manuel Alberto Valente estavam na plateia onde faltou Eduardo Lourenço, mas enviou uma mensagem que foi lida durante a cerimónia.

“Com Saramago entra nesta casa uma geração que desejou de olhos abertos, se não mudar o mundo, torná-lo digno de ser salvo da sua irredenta inumanidade”, escreveu o académico. “Nenhuma Cassandra podia vaticinar que a geração da Utopia que foi a de José Saramago encontraria, entre estes muros lembrados do império perdido, a sua capela ardente e maravilhosamente imperfeita. A realidade superou a ficção”, acrescentou. “Mas só o fez porque, antes, a ficção, os sonhos de papel de um poeta filho da terra e da sua transcendência, converteu as suas fábulas em fábulas de ninguém e de toda a gente. Os muros sem norte desta casa que a capital do País achou por bem conceder ao romancista que pôs o nome da sua terra no ecrã literário do mundo são o rosário de contos que o nosso fabulista-mor consagrou à sua musa Blimunda e ao numeroso séquito que a acompanhará para sempre”.

António Costa, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, explicou aos jornalistas que a abertura da Casa dos Bicos ajuda a reforçar a atractividade da Baixa de Lisboa. “As obras na Casa dos Bicos estão concluídas. O que está em curso no rés-do-chão é a campanha arqueológica que demorará o tempo que os arqueólogos necessitarem. Temos muitos séculos de História debaixo dos nossos pés”, explicou. “Terminamos agora a intervenção no Terreiro do Paço, temos em curso a intervenção na Ribeira das Naus e a seguir iremos fazer a intervenção no Campo das Cebolas em articulação com o projecto do terminal de cruzeiros e da Doca da Marinha”, acrescentou.

Vasco Graça Moura que durante oito anos trabalhou na Casa dos Bicos quando ali estava instalada a Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses acha “extremamente interessante que ela tenha passado de um sítio onde se cruzavam ideias sobre celebrações do passado português para um sítio onde se encontra depositada uma obra e sobretudo uma memória que é extremamente importante na nossa cultura actual”.

No final da cerimónia, perto da oliveira onde estão depositadas as cinzas de José Saramago e foram depositadas flores, o secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, considerou que a abertura das portas da Fundação ao público na Casa dos Bicos é importante para a divulgação e a presença da obra de José Saramago na cidade e que a exposição que agora ali pode ser visitada é muito importante para a construção da figura literária de José Saramago, concluindo: “Mas não é só isto que faltava: falta muito mais, falta Saramago ser lido e continuar a ser lido”.

Notícia corrigida no dia 14/06 às 12h32, A Casa dos Bicos é um edifício quinhentista e não seiscentista
Sugerir correcção
Comentar