Ir à bola e torcer pelos gregos

Se a minha selecção é o Benfica (o meu deus Maradona e o seu profeta Messi) e este não é ano de Mundial, o que é que eu estou aqui a fazer?

As causas para a minha selecção não ser "a de todos nós" são essencialmente de dois tipos: memórias e má vizinhança.

Nos meus anos de formação, a selecção dava poucas para a caixa. Restou-me aprender sobre geografia e diplomacia. Eu sei que estivemos no México, mas, por algum motivo, lembro-me melhor de Marrocos. A partir daí, foi sempre a sofrer. Ou éramos maus de mais ou tão bons que não dava para acreditar em tanto tiro no pé. Certo é que tive de esperar pelos meus dez anos para festejar um título (dos sub-20). Entretanto, tive a minha selecção. Foi essa, mais coisa menos coisa. Se eu mandasse, ainda tinham jogado todos em 2008 (Paulo Sousa incluído, joelho atado até deixar de o sentir). Nas memórias também há golos do Rui Costa e o JVP a sentar a defesa da Alemanha (um dia depois de eu ter sido tia) num jogo de qualificação. E JVP a socar um árbitro (no meu dia de anos).

A má vizinhança é mais subjectiva. Irrita-me que de dois em dois anos quase todas as minhas amigas (e a minha mãe, e as senhoras do café e umas que às vezes apanho no metro) descubram esta coisa da paixão da bola. Que, como todas, deve ser praticada. Mesmo que o objectivo final seja a perfeição e não tenha de fazer sentido.

Chegamos a ontem, dia em que saltei e berrei (eu posso: sei o que é um trinco desde os quatro anos). É mais forte do que o peso das memórias e da má vizinhança. Ou então é mesmo por causa das memórias e da vizinhança. Talvez seja só por ser fácil - como gostar de tremoços e do mês de Junho.

Ah, e o que é que eu estou aqui a fazer? Vim ver a bola e torcer pelos gregos.

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