Reinventar Duarte Belo e a forma como olhamos o país

A exposição “A construção da Fuga: território, mapeamento e processo em Duarte Belo” propõe uma reflexão sobre o método do fotógrafo que se tem dedicado a documentar o território nacional

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Duarte Belo

Nos últimos 25 anos, Duarte Belo tem fotografado Portugal, num esforço de levantamento de unidades de paisagem, arquitecturas primitivas e contemporâneas e transformações do território. Um trabalho sistemático que resultou numa obra vasta, sobre a qual se debruçaram alunos do Mestrado em Fotografia do Instituto Politécnico de Tomar (IPT) para desconstruir o processo de criação do autor. O resultado dessa abordagem pode ver-se no Centro de Arte e Imagem do IPT, em Tomar, até 22 de Abril.

Fotografias, mapas, textos, desenhos, apontamentos e itinerários constituem a matéria-prima escolhida por Duarte Belo e Nuno Faria, curador da exposição e professor do IPT. A exposição está estruturada em dois momentos distintos: um primeiro núcleo apresenta documentos – mapas, cadernos de campo e outros elementos relacionados com o processo – que procuram elucidar sobre a aproximação criativa do fotógrafo ao território, enquanto o segundo núcleo expõe fotografias do projecto Portugal – O Sabor da Terra.

“A ideia era, num primeiro momento, fazer uma espécie de atlas do meu trabalho e da minha relação com a paisagem, com o território e com a própria fotografia como meio. Na segunda sala, quisemos mostrar o produto desse trabalho que são as fotografias antes de fazer uma escolha definitiva”, salienta Duarte Belo.

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Fotografias, mapas, textos, desenhos, apontamentos e itinerários Luís Octávio Costa

O valor simbólico da imagem

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É uma espécie de atlas do trabalho do fotógrafo Duarte Belo

O discurso expositivo surgiu do diálogo e encontro de opiniões entre os alunos e o autor, e o objectivo era trabalhar as imagens enquanto documento.

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O trabalho foi realizado por alunos do Mestrado em Fotografia do IPT Duarte Belo

“O que mais nos interessava era perceber o valor material e simbólico da imagem e a forma como ela nos pode devolver aquilo que nos rodeia. Queríamos propor um trabalho que permitisse repensar a imagem como constitutiva da percepção que temos do território”, afirma Nuno Faria.

Nesta exposição, a reflexão sobre a forma como olhamos as imagens e como elas podem estruturar o mundo envolvente concretiza-se também na inversão das convenções no modo como tradicionalmente se expõe o material fotográfico: no primeiro núcleo, os documentos e cartografias estão expostos no plano vertical; no segundo momento expositivo, as fotografias são apresentadas na horizontal.

Segundo Duarte Belo, a exposição sugere, assim, novas relações de leitura com as imagens e pretende “estimular no público uma reflexão sobre o processo que desencadeia a imagem e o que está por trás de uma obra extensa de recolha fotográfica de Portugal”.

Naquela que se poderia designar de exposição-exercício, a montagem peculiar do material exposto convida os espectadores a olhar para o corpo de trabalho de um autor que promove a identificação e redescoberta de um país, à escala das suas multiplicidades de lugares e arquitecturas.

“É uma experiência e ao mesmo tempo uma descoberta porque nos dá a ver de forma orgânica e renovada o trabalho do Duarte Belo. E dá-nos acesso a um universo autoral que é absolutamente fascinante”, remata Nuno Faria.

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