Crónica de jogo: Patrício de ferro

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Wolfswinkel marcou o golo do Sporting na Ucrânia Foto: Patrícia Melo Pereira/AFP

Arrigo Sacchi, famoso treinador do Milan, dizia que primeiro queria “gente séria e fiável” e que “só depois vem o talento”. Foi um pouco esta a receita usada por Ricardo Sá Pinto para dar ao Sporting a quinta meia-final da sua história, depois da Taça das Taças de 1963-64 e 1973-74 e da Taça UEFA de 1990-91 e 2004-05.

Há sete anos, Sá Pinto era um veterano jogador num Sporting artístico de José Peseiro, que encantou a Europa, mas caiu na final jogada em Alvalade frente ao CSKA de Moscovo. Agora é um jovem técnico, há mês e meio no cargo. Está ainda a passar as suas ideias aos jogadores, já fez questão de dizer que quer um futebol de toque, mas até agora o que mais distinguiu o seu Sporting, especialmente na Liga Europa, foi o realismo e a inteligência com que aborda os jogos.

Mais do que espectacular, o Sporting é uma equipa sólida e que aprendeu a sofrer. Viu-se isso em Manchester e voltou a ver-se em Kharkiv, onde o Metalist foi mais perigoso e esteve perto de empatar a eliminatória.

Na hora de aperto, Sá Pinto voltou a ter do seu lado um Rui Patrício de grande qualidade e que, em breve, deverá dar o salto para uma das grandes ligas europeias. O guarda-redes, que irá ao Euro 2012 como titular e em grande forma, fez um par de boas defesas na Ucrânia, entre elas um penálti de Cleiton Xavier (64’), que empataria a eliminatória e obrigaria a um prolongamento.

Na primera parte, houve mais Metalist do que Sporting, mas foi a equipa portuguesa quem saiu para o intervalo a vencer. Na única grande oportunidade dos “leões”, Capel cruzou de pé direito e Ricky van Wolfswinkel marcou o seu quinto golo na prova (44’).

O golo foi o melhor que podia ter acontecido ao Sporting, até porque para trás ficava uma primeira parte em que o Metalist foi ameaçador. Os ucranianos estiveram sempre por cima e foram aproveitando o facto de a equipa portuguesa não ter conseguido circular a bola.

O 4x4x2 de Sá Pinto, com Schaars e André Martins no meio, faria supor uma equipa com mais posse de bola, mas na verdade não foi isso que aconteceu. O resultado foi os ucranianos criarem alguns lances de perigo, com relevo para um remate de Cleiton Xavier bem defendido por Patrício (32’). Antes, Edmar também tinha colocado à prova o guarda-redes da selecção (3’) e Cristaldo tinha cabeceado por cima (12’).

Num relvado de má qualidade — o Euro 2012 exigirá mais —, os “leões” falharam muitos passes, exploraram pouco (e mal) o contra-ataque e, embora rigorosos no plano táctico, cometeram desatenções defensivas que poderiam ter custado bem caro. Xandão e Polga (este o único sobrevivente da meia-final de 2004-05) cometeram algumas falhas graves, uma delas no golo do empate do Metalist, em que o recém-entrado Devic assistiu o argentino Cristaldo para o 1-1 (57’).

Com mais de meia-hora para jogar, o Metalist voltava a sonhar e esteve perto de empatar a eliminatória. O árbitro marcou penálti num lance em que Insúa colocou o braço nas costas de Devic, mas a queda do ucraniano pareceu muito forçada.

Certo é que Cleiton Xavier teve oportunidade de fazer o 2-1, evitado por uma defesa com os pés de Rui Patrício (64’). Ao instinto do guarda-redes seguiu-se o pragmatismo de Sá Pinto. O técnico “leonino” já tinha lançado Renato Neto no jogo e reforçou o meio-campo com André Santos. O Sporting regressou ao mais habitual 4x3x3, mas com três médios defensivos, e fechou a porta a um Metalist que quebrou física e animicamente.

Estava garantida a presença na meia-final. Um ano depois, Portugal volta a estar nesta fase da prova (agora em minoria face a três equipas de Espanha) e para a eliminatória com o Athletic Bilbau o Sporting leva uma equipa motivada e um Patrício de ferro.

POSITIVORui Patrício

Voltou a ser decisivo. Parou uma grande penalidade e ainda fez mais quatro boas defesas. Em ano de Europeu, está cada vez mais perto de dar o salto.


Wolfswinkel

Nem foi um jogo brilhante do holandês, mas trabalhou muito e fez o que pede a um ponta-de-lança. Numa oportunidade, marcou um golo decisivo.


Taison e Devic

O brasileiro e o ucraniano voltaram a ser os jogadores mais perigosos de um Metalist que tem mais qualidade do que se poderia imaginar. Só se estranha que Devic tenha ficado outra vez no banco.


NEGATIVOCentrais do Sporting

Polga e Xandão iam deitando tudo a perder.


Ficha de jogo

Estádio do Metalist, em Kharkiv.Espectadores: Cerca de 35.000


Metalist

Goryanov, Villagra, Obradovic, Berezonchuk, Pshenichnikh (Blanco, 85’), Edmar (Devic, 46’), Torres (Marlos, 71’), Sosa, Cleiton Xavier, Taison, Cristaldo.Treinador Myron Markevych


Sporting

Rui Patrício, João Pereira, Xandão, Polga, Insúa, André Martins (André Santos, 72’), Schaars, Izmailov, Matías Fernandez (Renato Neto, 60’) Capel (Evaldo, 83’ a89’) e Van Wolfswinkel. Treinador Sá Pinto


Árbitro

William Collum, da Escócia.

Amarelos

Berezonchuk (40’), Sosa (59’), Xandão (62’), Torres (69’), Taison (82’), Obradovic (92+2’)

Golos

0-1, por Wolfswinkel, 45’


1-1, por Cristaldo, 57’ 



Notícia actualizada às 23h05
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