“Archer”: rir que nem um javardo

Sou um frouxo e adoro "sitcoms" cheias de coração, como “Community” ou “Parks and Recreation”. Mas de vez em quando preciso de me rir que nem um javardo. Nisso ninguém bate “Archer”

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Apesar de raramente receber a mesma atenção que outros canais de cabo americanos, o FX tem uma programação original soberba. Consegue a proeza de transmitir a melhor série dramática a passar actualmente na televisão americana (programas que estão parados enquanto não começam temporadas novas não entram nestas contas): “Justified”. E a melhor "sitcom" para rir que nem um javardo (escusado será dizer que não se incluem nesta categorias as maravilhas das quintas da NBC): “Archer”. Apetece-me escrever umas linhas sobre esta última.

Não há razão para alguém gostar de se rir e não ver a série de animação de Adam Reed, descrita pelo próprio criador como um misto de “James Bond” e “Arrested Development”. Percebe-se porquê. Por um lado, o protagonista, Sterling Archer, é um super-agente secreto misógino, alcoólico e algo racista, um Bond sem superego. Por outro, a série também anda à volta de relações disfuncionais como a de Sterling e Malory, a sua mãe – interpretada por Jessica Walter, a Lucille Bluth de “Arrested Development”. Contudo, “Archer” é muito mais do que a soma das suas partes.

É importante sublinhar que apesar de os protagonistas trabalharem numa agência secreta ficcional, a ISIS, e de alguns episódios andarem à volta das missões deles, esta não é uma série de espiões ou uma sátira ao género como “Get Smart” (“Olho Vivo”, em português). Quando muito, é uma "sitcom" sobre uma empresa em que, por acaso, trabalham espiões. Mas também não é bem isso.

As piadas raramente andam à volta do trabalho ou do dia-a-dia das personagens. Quase todas as piadas remetem para outros objectos da cultura pop — veja-se o fetiche de Sterling por Burt Reynolds ou as referências constantes a “Danger Zone”, a canção de Kenny Loggins; para a própria série — há óptimas piadas recorrentes, como as mensagens de voz do protagonista; ou para a própria linguagem — uma piada recorrente prende-se com o facto de as pessoas usarem mal a expressão “literalmente”.

Voltamos a “Arrested Development”. A intertextualidade e a profusão de meta-piadas também era um dos pontos fortes da obra-prima de Mitchell Hurwitz. Porém, essa série era muito mais do que isso. “Archer” não. Tal como “Sealab 2021” ou “Frisky Dingo”, também de Adam Reed, é só uma série de animação pós-moderna para rir que nem um javardo. É tudo o que se quer.

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