Análise: Portugal foi primeiro cigarra e depois formiga trapalhona

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1. Portugal mostrou futebol de qualidade durante quase toda a primeira parte. Viu-se então uma selecção autoritária, personalizada e capaz de apresentar um futebol variado e suculento. Claro que do outro lado estava a Polónia, uma selecção apenas mediana e normalmente de comportamento irregular, mas que tem jogadores nos grandes campeonatos e que queria justificar os 500 milhões de euros gastos no estádio novo.

2. Paulo Bento repetiu a colocação de Miguel Veloso na posição 6, contrariando assim as informações que iam no sentido da aposta em Manuel Fernandes para a posição. Uma opção que faz todo o sentido, porque o play-off mostrou que Veloso está mais maduro e capaz para desempenhar o papel. De resto, o seleccionador trocou Postiga por Hugo Almeida, o que também faz todo o sentido se olharmos para a fecundidade goleadora do primeiro na Liga espanhola...

3. Na primeira parte viu-se um meio campo português a exibir-se a grande altura. Veloso, Meireles e Moutinho formam um trio muito complementar, mas o destaque principal tem de ser, naquele período, atribuído ao jogador do FC Porto, sempre incansável e esclarecido. Portugal contava então também com o apoio dos laterais (embora menos quando Nélson entrou para substituir o lesionado Fábio Coentrão).

4. Mas o grande destaque naquele período de ouro de Portugal vai para Nani. Estava com vontade e inspiração e criou inúmeros desequilíbrios. Só não foi eficaz na concretização, mas até aí há que dar mérito a Szczesny, um guarda-redes que no Arsenal alterna o bom com o medíocre, mas que ontem fez defesas extraordinárias.

5. Na primeira parte faltou a Portugal principalmente um Ronaldo mais inspirado. Ele tentou destacar-se das mais diversas formas, mas nem os livres lhe saíram com a precisão e a potência habituais. Mesmo assim, esteve perto de marcar em cima do intervalo, preferindo assumir a responsabilidade de rematar numa situação em que podia (ou devia?) ter assistido Hugo Almeida. Szczesny tirou-lhe a hipótese de ficar na história como o primeiro a marcar no bonito estádio de Varsóvia.

6. A Polónia, que apenas tinha conseguido sacudir a pressão aqui e ali, veio com outra vontade do balneário. Mas também é impossível não relacionar a melhoria polaca e o esfumar da fiabilidade do futebol português com a saída de João Moutinho. Paulo Bento cumpriu assim o prometido e tirou do jogo o único titular que, dentro de poucas horas, vai disputar o clássico da Luz. Mas as implicações negativas foram imediatas, pelo menos enquanto Manuel Fernandes não estabilizou e entrou no ritmo do jogo. A partir dessa altura, ficou comprovado que o jogador do Besiktas pode vir a ser uma grande mais-valia, porque possui qualidades raras num sector onde a selecção portuguesa perdeu unidades valiosas nos últimos tempos.

7. No período de menor exuberância de Portugal vieram também ao de cima algumas falhas defensivas no sector mais recuado. O regressado Nélson teve mesmo um disparate inadmissível, desperdiçado de forma surpreendente por Jelen. O avançado do Lille foi imitado, na falta de eficácia, por Obraniak, um maestro cedido pelo Bordéus que tem qualidade para dar e vender. Desperdício maior só mesmo o de Nani, que conseguiu desaproveitar um contra-ataque em que Portugal cavalgou sem sucesso com quatro homens.

8. Durante esta fase mais tremida, foi decisiva a qualidade do trabalho de Rui Patrício.

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