Editorial: O papel do papel e o porquê da mudança

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No caderno principal há dois planos diários, com paginação distintiva e textos de grande fôlego, herança directa do P2 DR

Depois de um ano de trabalho e análise, o PÚBLICO vai sair para a rua com um novo grafismo no dia 5 de Março. E perguntará o leitor: porquê redesenhar o jornal outra vez?

Fizemos de facto a última reforma gráfica há apenas cinco anos e, com esse novo grafismo de Mark Porter, fomos premiados internacionalmente muitas vezes, incluindo com o Lápis Amarelo da D&AD, o “Óscar” do design.

Mas o mundo mudou muitíssimo desde 2007 e, com essa transformação, mudou também a forma como hoje lemos notícias.

Basta ver que o nosso grafismo actual foi lançado em Fevereiro de 2007 e que, quatro meses depois, apareceu o primeiro iPhone, que impulsionou o mercado dos smartphones. A seguir, em Setembro de 2008, o Banco Lehman Brothers caiu e, um ano e meio depois, já em plena crise internacional, apareceu o primeiro iPad.

O que nos diz isto? Que Steve Jobs nos tirou o tapete, é verdade, mas acima de tudo que nasceu um novo paradigma de leitura.

Há cinco anos, pensámos num jornal em papel que permitisse ao leitor dois tempos de leitura — o tempo de leitura rápida no primeiro caderno e o tempo de leitura longa no P2 e nos suplementos.

Hoje, com as novas máquinas, a leitura rápida é feita nos smartphones e no online, e a leitura longa no papel e nos tablets. De manhã, lemos notícias ainda deitados na cama; acompanhamos a actualidade no trabalho; à noite lemos mais notícias no tablet ou no portátil, pelo caminho vemos televisão e ouvimos rádio.

O PÚBLICO tem hoje mais leitores do que nunca. Por dia, 440 mil pessoas lêem o PÚBLICO em papel, 280 mil no online, 35 mil no iPhone (são leitores activos — o total de downloads é cinco vezes maior), e 16 mil no iPad (leitores activos). Para não falar das 240 mil pessoas que nos seguem no Facebook. No online, aliás, não paramos de crescer — somos o líder entre os jornais generalistas. Por mês, temos 10 milhões de visitas e 44 milhões de pageviews. Há duas semanas, numa segunda-feira como outra qualquer, sem notícias extraordinárias, tivemos 2 milhões de pageviews, um recorde que até hoje tínhamos atingidoraras vezes e em dias com, precisamente, acontecimentos extraordinários.

Este é o resultado da nossa estratégia de reforço e aposta no online: temos dois novos sites satélite, o Life&Style e o Fugas, e um projecto inovador chamado P3, para jovens dos 18 aos 25 anos. Publicamos mais de 100 notícias por dia no nosso site.

Neste novo mundo, qual é então o papel do papel? Foi sobre esta pergunta que começámos a trabalhar na Primavera do ano passado. Depois de meses de discussão e análise — não muito diferente do debate que atravessa todas as redacções dos jornais de referência do Ocidente — decidimos experimentar um conceito diferente de diário.

Desde 26 de Junho que, aos domingos, fazemos um jornal diferente. Um jornal que trata os temas da actualidade com maior profundidade e que, deliberadamente, tenta eliminar a sensação de déjà-vu. O leitor de hoje, que tem a informação actualizada sempre à mão, esteja sentado a trabalhar ou em trânsito pelo mundo, não procura num jornal apenas um resumo inteligente da véspera. Quer compreender a actualidade, quer um jornal que lhe dê notícias e informação nova, e conteúdos distintivos e desenvolvidos sobre o que já viu e leu na véspera. Quer um jornal que acrescente.

O movimento que vamos fazer a 5 de Março, dia do nosso 22.º aniversário, não é por isso um capricho estético. É o resultado da nossa reflexão sobre como nos aproximarmos do leitor de hoje.

Vamos assim, a partir de agora — e de novo pela mão de Mark Porter — prolongar para todos os dias o modelo que começámos a testar no Verão. Os resultados que tivemos desta experiência reforçaram aliás a nossa convicção: as edições de domingo passaram a ser o dia de vendas mais forte da semana, quando ao domingo há menos postos de venda abertos no país e não temos livros ou discos associados à compra do jornal.

O que vai ser diferente?

Vamos tentar ser um jornal diário mais exigente e estimulante, com os temas de actualidade tratados com mais profundidade. Por causa desta evolução, o P2 deixa de ser um suplemento diário. Os seus conteúdos passam a estar no caderno principal e a sua filosofia funde-se organicamente no jornal. Haverá, de qualquer modo, planos especiais diários, com uma paginação distintiva.

Há também o regresso de duas secções fundamentais ao caderno principal do jornal — a Cultura e a Ciência.

Os suplementos do PÚBLICO, cuja identidade é fortíssima, vão ser reforçados, tanto o ípsilon, à sexta, como a Fugas, ao sábado. Ao domingo, nasce a revista 2, que será grande, do tamanho do jornal, e diferente, num momento em que as revistas dos jornais são muito iguais. Acreditamos que com este reposicionamento o leitor sentirá familiaridade e conforto. O novo grafismo não será um objecto estranho, pelo contrário. É uma evolução natural para adaptarmos o jornal ao mundo de hoje.

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