Domingos entusiasmou Alvalade, mas não resistiu à tradição da casa

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Domingos Paciência Marcos Borga/Reuters

Passaram 112 dias desde que Domingos Paciência gozou o seu pico máximo de sucesso no Sporting. Um estádio de Alvalade com mais de 30 mil adeptos festejou euforicamente uma goleada ao Gil Vicente (6-1), para a oitava jornada do campeonato, que seria a nona de dez vitórias consecutivas da equipa. O ex-treinador do Sp. Braga parecia o homem certo e reunia a unanimidade leonina. Mas, como tantos outros, não sobreviveu a uma fase negativa e à impaciência de dirigentes e adeptos. Nesta segunda-feira foi substituído por Ricardo Sá Pinto, o 31.º técnico dos lisboetas nos últimos 25 anos.

Não é fácil ser treinador em Alvalade, mas não deixa de ser inesperada esta saída prematura de Domingos. Não só porque tinha contrato até ao final da próxima temporada, mas também por encabeçar um projecto a médio prazo para o futebol sportinguista. Isto mesmo foi lembrado pelo próprio presidente do clube e da SAD (Sociedade Anónima Desportiva) no último domingo, quando nem quis ouvir falar na hipótese de saída de Domingos. Um voto de confiança efémero. “Há uma estrutura à volta do futebol, devidamente consolidada, e para fazer um bom trabalho ao longo do tempo tem de ser sustentada. Há jogadores a entrar e a sair e os resultados vão aparecer (...). Temos necessidade de sustentar um projecto para que ele vingue”, defendeu Godinho Lopes.

A meio da tarde, um comunicado da SAD à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) anunciava a rescisão do contrato do treinador (confirmando Ricardo Sá Pinto, que orientava até agora a equipa júnior, como seu sucessor), devido aos maus resultados da equipa, abalando a argumentação da véspera do líder leonino. Domingos ainda orientou a sessão de trabalho matinal, desconhecendo-se ainda quando foi informado da decisão da administração da SAD, assim como os pormenores da sua rescisão. Já o seu sucessor assinará contrato até ao final da próxima temporada.

Apresentado como uma bandeira eleitoral da actual direcção (ainda que só fosse confirmado oficialmente em Maio de 2011, altura em que cessava o contrato com o Sp. Braga), Domingos começou por ser uma escolha popular e relativamente consensual para os sportinguistas. Até Bruno de Carvalho, grande rival de Godinho Lopes nas últimas eleições, admitiu a qualidade do treinador do projecto rival.

Tudo correu relativamente bem até ao princípio deste ano, quando um ciclo negativo, comprometedor para a época desportiva, originou um comentário de Godinho Lopes, considerando os resultados aquém dos objectivos determinados no princípio da temporada. Um balanço negativo que desagradou ao treinador, que considerou um semestre insuficiente para avaliar o seu desempenho. Para tal, escudou-se nas profundas alterações verificadas no plantel, com muitos jogadores ainda em fase de adaptação.

Já no final de Janeiro, sem conseguir sair da espiral de maus resultados, Domingos foi mais longe e criticou a forma como esta temporada foi planificada: “Fui recebendo jogadores a conta-gotas. Preparei uma época com determinado sistema e modelo de jogo e, a partir de certa altura, apercebo-me que os jogadores que vieram não conseguiam fazer o que eu queria.”

Terão sido estes comentários, que visariam directamente os principais responsáveis pelo futebol do Sporting, Luís Duque e Carlos Freitas, associados aos últimos desaires desportivos, nomeadamente a derrota frente ao Marítimo, que colocou a equipa no quinto lugar, a precipitar a sua saída. “Entendeu a administração da Sporting Futebol, SAD, rescindir contrato com o seu treinador, por entender que quer a eliminação da fase de grupos da Taça da Liga, quer o 5.º lugar actual na Liga não correspondem aos objectivos propostos para este primeiro ano de mandato”, lia-se num comunicado publicado no site do clube.

Ricardo Sá Pinto torna-se agora no 31.º homem a liderar o banco leonino nos últimos 25 anos, num cargo que teve em Paulo Bento o rei da sobrevivência, nos últimos 67 anos. De referir que, no último quarto de século, apenas cinco temporadas foram completadas pelo treinador que encerrou a anterior, com Paulo Bento a repetir por três vezes o feito (2006-07 a 2008-09). Os restantes foram Carlos Queiroz (1994-95) e Laszlo Boloni (2002-03).

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