Publicação científica portuguesa triplica em dez anos

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Quem vem em primeiro lugar no impacto de citação mundial são as Ciências Espaciais Rui Gaudêncio (arquivo)

A publicação científica portuguesa, avaliada em quinquénios, triplicou em apenas uma década. Entre 2006 e 2010 publicaram-se 38.338 artigos com autores de instituições nacionais, um salto em relação às 12.693 publicações lançadas entre 1996 e 2000.

Este é o dado que sobressai do novo relatório “Produção Científica portuguesa, 1981-2010. Dados Bibliométricos”, que mostra um aumento de 3421 novos artigos em comparação com o quinquénio de 2005-2009.

O documento, publicado há duas semanas pelo Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais (GPEARI), sob tutela do Ministério da Educação e Ciência, reforça a ideia que a produção científica continua a aumentar, eclipsando os 1618 artigos publicados entre 1981 e 1985. A informação tem por base os dados disponibilizados pela Thomson Reuters – Essential Science Indicators, que divide a produção científica em 22 áreas científicas e agrega os dados em quinquénios para relativizar descidas ou subidas anuais abruptas que não têm significado estatístico.

Os dados provisórios mostram que a Química lidera com 5427 artigos publicados no último quinquénio, seguida pela Medicina Clínica com 4389 e a Física com 3833. Embora só em uma das 22 áreas o número de artigos tenha diminuído – a Ciência Computacional –, continua a ser um desafio perceber qual a relação entre o crescendo na produção científica e a qualidade do trabalho que sai das universidades e dos institutos.

“Tem havido uma melhoria significativa na quantidade da produção científica nacional ao longo dos últimos 20 anos. Por outro lado, não dispomos ainda de instrumentos que permitam aferir a respectiva melhoria qualitativa”, disse Joana Mendonça, subdirectora geral do GPEARI, ao PÚBLICO.

Um dos indicadores que o relatório apresenta, é o impacto de citação mundial da área, que indica se os artigos nacionais de uma dada área são mais ou menos citados do que a média mundial. Um impacto de 1 é igual ao da média. “Vinte das áreas científicas aumentaram o seu impacto internacional, sendo que nas áreas de Ciências Agrárias, Medicina Clínica, Engenharia, Neurociências & Comportamento, Física, Ciências dos Animais e das Plantas, Ciências do Espaço e [a área] Multidisciplinar, o impacto internacional da produção científica nacional é superior ao impacto médio mundial”, disse Mendonça.

Espaço é líder

Quem vem em primeiro lugar no impacto de citação mundial são as Ciências Espaciais. No quinquénio de 2006-2010, só foram publicados 555 artigos nesta área, a quarta menor, (a área Multidisciplinar publicou 38 artigos, Imunologia 325 e Psicologia/Psiquiatria 507), mas o impacto foi de 2,09. Em comparação, a área da Física, que vem em segundo lugar, tem apenas 1,37.

“Não importa o número de artigos, mas a importância que têm para a comunidade internacional”, disse Mário João Monteiro, director do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto, ao PÚBLICO. O cientista e professor defende que estes resultados são fruto de uma comunidade de cientistas jovens, que desenvolveu-se a partir de 1990 e está fortemente internacionalizada.

“Quase duas centenas de investigadores tiveram que ir fazer o doutoramento lá fora, voltámos integrados em equipas internacionais. Pelo facto de estarmos a sair do zero, fizemos um curto-circuito do processo” na evolução da ciência que se faz em Portugal, interpreta o investigador, notando que este apagão não pôde ser feito da mesma forma em outras áreas, que já tinham uma tradição científica nacional.

Por isso, nas Ciências Espaciais, oitenta por cento dos artigos são também assinados por autores estrangeiros. “A astronomia de qualidade tem que ser feita em consórcios, é impossível um país ter dinheiro [para este tipo de investigação]”, explicou.

Mas há lugar para a liderança. “O tamanho do país não é razão para falta de competitividade numa ou em mais áreas científicas (veja-se por exemplo a Holanda, Dinamarca, Suíça, Finlândia)”, defendeu Joana Mendonça. Na área das Astrofísica isso já acontece, disse por seu lado Mário João Monteiro. “Portugal, à medida que vai armazenando massa crítica, vai liderando”, disse o cientista, apontando para o caso do astrónomo Nuno Santos, da Universidade do Porto, que é o representante português do projecto de um instrumento do Observatório Europeu do Sul, um consórcio de quatro países que inclui Portugal. “Liderar é garantir que há portugueses que participam ao mais alto nível nos projectos da área.”

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