Director de segurança demitido após violência que matou 74 pessoas no Egipto

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A violência começou após o apito final do jogo Foto: Mahmud Hams/AFP

O director de segurança da cidade egípcia de Port Said (no Norte do país), onde pelo menos 74 pessoas morreram na sequência da violência registada na noite desta quarta-feira após um jogo de futebol, foi afastado do cargo.

A decisão foi tomada pelo ministro egípcio do Interior, Mohammed Ibrahim, que afastou do cargo Essam Samak "depois dos acontecimentos em Port Said", segundo noticia nesta quinta-feira a agência oficial Mena.

A violência no estádio começou quando o árbitro deu por terminada a partida entre as equipas do Al-Masry e do Al-Ahly, treinada pelo português Manuel José. Centenas de adeptos do Al-Masry – clube de Port Said, que jogava no seu recinto – invadiram depois o relvado e, ao que tudo indica, começaram a lançar objectos contra os apoiantes do Al-Ahly – equipa da capital egípcia, Cairo. O treinador Manuel José chegou a ser agredido, como o próprio relatou, mas escapou sem ferimentos, com a ajuda das forças de segurança. O técnico admitiu depois que poderá abandonar o Egipto.

"Quando o jogo terminou, não consegui voltar ao balneário por causa da confusão toda que aquilo deu. Levei pontapés, murros, meteram-me numa sala e nunca mais consegui voltar à cabina. Trouxeram-me para um quartel, estou à espera que os jogadores venham. Os nossos adeptos chegaram a entrar para a nossa cabina. A culpa é dos soldados, havia dezenas deles e polícias também. Desapareceram todos, está o caos completo", afirmou Manuel José, logo após o sucedido, à SIC Notícias. O Al-Ahly, considerado o maior clube do Egipto, perdeu o jogo por 3-1: a primeira derrota no campeonato.

Centenas de feridos

De acordo com o último balanço oficial feito pelas autoridades, pelo menos 74 pessoas morreram e outras 248 ficaram feridas nos violentos confrontos. Contudo, a agência de notícias AFP fala em centenas de feridos, enquanto a Reuters refere, na manhã desta quinta-feira, pelo menos 1000 pessoas feridas.

As autoridades locais de saúde informam que a maioria das mortes resultou de hemorragias internas sofridas pelas vítimas, de quedas e de fracturas graves. Não há, por outro lado, informações sobre eventuais detenções.

A violência, segundo vários relatos, estendeu-se depois às ruas de Port Said, mas também ao estádio do Cairo onde se disputava o encontro entre o Al-Ismailiya e o Zamalek.

Esta foi a maior tragédia registada em estádios de futebol desde a que ocorreu na Guatemala em 1996: morreram na altura 82 pessoas.

A política e o futebol

Logo após os acontecimentos, um deputado da Irmandade Muçulmana acusou os partidários de Hosni Mubarak, ex-Presidente egípcio deposto em 2011 por uma revolução, de serem responsáveis pelos incidentes naquele estádio no Norte do Egipto. "Os acontecimentos de Port Said foram planificados e são uma mensagem dos partidários do antigo regime", disse o deputado Essam al-Erian, num comunicado publicado no site do Partido da Liberdade e Justiça, a formação política que domina o novo Parlamento egípcio.

Essam al-Erian afirmara ainda que a Assembleia Nacional vai exigir ao ministro do Interior do governo interino (nomeado pela junta militar) e aos responsáveis pela segurança que "assumam plenamente as suas responsabilidades".

O Governo egípcio, liderado pelo primeiro-ministro Kamal Ganzuri, vai reunir-se de emergência nesta quinta-feira, para debater os graves incidentes ocorridos em Port Said.

Por seu lado, o presidente da FIFA, Joseph Blatter, falou em "dia negro para o futebol". "Estou muito chocado e triste por saber que um grande número de adeptos morreu ou ficou ferido. É um dia negro para o futebol. Uma situação tão catastrófica é inimaginável e nunca deveria ter acontecido”, disse Blatter em comunicado.

Já a Federação Egípcia de Futebol decidiu suspender de imediato, por tempo indeterminado, o campeonato da primeira divisão.

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