Enterrado

O enterro prematuro é um velho e produtivo fantasma. Inútil procurar Poe aqui, no entanto. “Enterrado” nasce mais - apostávamos - de uma das mais impressionantes cenas do “Kill Bill” de Tarantino, quando Uma Thurman despertava e percebia que tinha sido enterrada viva. Aqui é um militar americano no Iraque que descobre o mesmo - este “contexto” não é indiferente, porque o filme usa todos os truques para contrariar a austeridade confinada que lhe é (seria) essencial, e encher-se de “pormenores”. Daí que “Enterrado” venha menos de Poe ou de Tarantino, ou sequer dos “Contos do Imprevisto”, e mais, como alguém já disse, da Nokia ou da Motorola: sem o telemóvel como adereço espectacular para cortar o silêncio e transformar isto num filme de diálogos, mais ou menos “espertinhos”, mais ou menos a piscar o olho à cumplicidade do espectador (maneira de o reconfortar, maneira de o desimplicar), nunca haveria “Enterrado”, falso filme claustrofóbico (pois se tudo nele é “telecomunicação”)... Isto dito, se conseguirmos despoluir a cabeça das ideias feitas que o “hype” pôs a correr (mais um génio...), condição “sine qua non” para não irritar, “Enterrado” tem alguma energia e cumpre a sua função de entretenimento menor sem maçar demasiado.

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